Arquitetura Inclusiva: Centro de Arte, Cultura e Convivência

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AnaCr i s t i naFa r a c odoAma r a l

A

I

Ce nt r odeAr t e , Cul t ur aeCo nv i v ê nc i a

:



CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC - CAMPUS SANTO AMARO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Ana Cristina Faraco do Amaral

Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura Inclusiva: Centro de Arte, Cultura e Convivência

São Paulo - SP 2016


ANA CRISTINA FARACO DO AMARAL

ARQUITETURA INCLUSIVA: CENTRO DE ARTE, CULTURA E CONVIVÊNCIA

Monografia

de

conclusão

de

curso

apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC Santo

Amaro,

como requisito

conclusão do curso.

Orientador: Prof. Mestre RALF JOSÉ CASTANHEIRA FLORES

São Paulo - SP 2016

parcial

à


FOLHA DE APROVAÇÃO

Ana Cristina Faraco do Amaral

ARQUITETURA INCLUSIVA: CENTRO DE ARTE, CULTURA E CONVIVÊNCIA

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista pelo Centro Universitário Senac, pela seguinte banca examinadora:

Monografia apresentada em: _____/_____/_____

Orientador: ______________________________________________ Prof. Ms. Ralf José Castanheira Flôres

Avaliador 1: ______________________________________________

Avaliador 2: ______________________________________________



À minha irmã, a verdadeira inspiração para a realização deste trabalho.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, por acreditarem em mim e me apoiarem, por todo o carinho, paciência e compreensão ao longo desses 5 anos de curso; Aos professores e professoras do Centro Universitário Senac, pela dedicação e por fazerem parte da minha trajetória; Ao meu professor orientador Ralf Flôres, pelas críticas, conselhos e orientações ao longo do desenvolvimento deste trabalho; À Barbara Murano, pela parceria e pelos excelentes conselhos; À Viviane Fowler, pelas oportunidades de aprendizado na ONG Ritmos do Coração; Às minhas amigas Aline, Amanda e Ângela pelo apoio, pelas conversas, pelas vivências e aprendizados ao longo desses 5 anos; À minha amiga Caroline Ribeiro pela amizade e pelas conversas e desabafos nas horas difíceis; E à minha irmã, por me proporcionar o aprendizado de observar o mundo por outros ângulos.


RESUMO Este trabalho aborda a questão da acessibilidade na arquitetura, traçando um panorama da evolução histórica das leis e normas, revisitando a trajetória das preocupações e discussões sobre a acessibilidade no Brasil. Aponta a questão da acessibilidade como fator essencial para a garantia do exercício dos direitos constitucionais das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O objetivo final deste trabalho é a proposição de um equipamento cultural multidisciplinar, com base nos princípios de desenho universal e que possa se transformar em um modelo de referência da conciliação entre estética, função e uso numa edificação destinada ao desenvolvimento de atividades de arte-educação, exposições e eventos culturais, resultando em um espaço de convivência e inclusão social integrado à natureza, que contemple a diversidade humana num ambiente que ofereça conforto, segurança, acessibilidade e bem estar.

Palavras-chave: Acessibilidade. Desenho Universal. Equipamento Cultural. Inclusão Social. Diversidade Humana.


ABSTRACT This work addresses the issue of accessibility in architecture, tracing an overview of the historical development of laws and regulations, revisiting the course of the concerns and discussions about accessibility in Brazil. Points the issue of accessibility as a key factor to guarantee the exercise of constitutional rights to people of disabilites or reduced mobility. The ultimate goal of this work is the proposition of a multidisciplinary cultural equipment, based on the principles of universal design and that may become a reference model of conciliation between aesthetics, function and use of a building for the development of art education activities, exhibitions and cultural events, resulting in a living space and integrated social inclusion to nature, covering human diversity in an environment that offers comfort, safety, accessibility and wellness.

Keywords: Accessibility. Universal Design. Cultural Equipment. Social Inclusion. Human Diversity.


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Homem Padrão (Imagem editada pela autora) .......................................... 15 Figura 2: Deficiência segundo a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Imagem editada pela autora) ......................................................... 18 Figura 3: Tríade Vitruviana (Imagem editada pela autora) ........................................ 33 Figura 4: Fachada do CCBB em São Paulo, SP (Fonte: spcentrohistoricocultural.blogspot.com) .................................................................... 41 Figura 5: Fachada CCBB SP (Fonte: checkinsaopaulo.com) .................................... 42 Figura 6: Elevador de acesso ao antigo cofre (Fonte: acervo da autora) .................. 43 Figura 7: Museu Reina Sofia, vista aérea (Fonte: Google Maps) .............................. 44 Figura 8: Fachada do MNCARS; elevadores panorâmicos em aço e vidro (Fonte: en.wikipedia.org) ....................................................................................................... 45 Figura 9: Edifício anexo, praça com escultura (Fonte: tienesplaneshoy.com) .......... 45 Figura 10: Palacio La Moneda, vista aérea (Fonte: Google Maps) ........................... 47 Figura 11: Fachada do Palacio La Moneda (Fonte: archdaily.com.br) ...................... 48 Figura 12: Centro Cultural Palacio La Moneda, elevador interno (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 48 Figura 13: Centro Cultural Palacio La Moneda, rampas internas (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 49 Figura 14: Centro Cultural Palacio La Moneda, vista da passarela (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 49 Figura 15: Fachada Pinacoteca do Estado de São Paulo (Fonte: temporadalivre.com) .................................................................................................. 50 Figura 16: Passarelas de acesso aos espaços de exposição (Fonte: higormap.wordpress.com) ......................................................................................... 51 Figura 17: Elevador panorâmico interno (Fonte: acervo da autora) .......................... 51 Figura 18: Mapa Tátil da Galeria de Esculturas da Pinacoteca (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 52 Figura 19: Museu Maxxi, vista aérea (Fonte: Google Maps) ..................................... 53 Figura 20: Fachada Museu Maxxi (Fonte: grandearquitetura.com.br) ....................... 53 Figura 21: Museu Maxxi, interno (Fonte: archdaily.com.br) ...................................... 54 Figura 22: Museu Solomon R. Guggenheim, vista aérea (Fonte: Google Maps) ...... 55


Figura 23: Fachada do Museu Guggenheim em perspectiva (Fonte: greatbuildings.com) ................................................................................................... 55 Figura 24: Museu Guggenheim, rampa Slope (Fonte: greatbuildings.com) .............. 56 Figura 25: Museu Guggenheim de Nova York em corte (Fonte: designboom.com) .. 56 Figura 26: Circulação coberta em blocos da ACIC - Florianópolis - SC .................... 85 Figura 27: Placas (Fonte: wandco.com/2007/04/children-friendly-acessible-hospital-) .................................................................................................................................. 85 Figura 28: Seattle Children Hospital (Fonte: www.studio-sc.com/seattle-childrenshospital.php) .............................................................................................................. 86 Figura 29: CHRISTUS Spohn - Hospital Corpus Christi (Fonte: www.sinalizar.files.wordpress.com)........................................................................... 86 Figura 30: Módulo de referência para projetos (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará).................................................. 88 Figura 31: Módulo de referência pessoa em cadeira de rodas (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará) ......................... 88 Figura 32: Rota acessível (Fonte: www.eduardoronchetti.com.br/acessibilidade) .... 89 Figura 33: Padrão de Acessibilidade nos diversos espaços (Fonte: CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade) ................................................................................. 90 Figura 34: Macro área de estudo (Fonte: Google Maps) ........................................... 91 Figura 35: Levantamento - Mapa de Fluxos (Fonte: acervo da autora) ..................... 92 Figura 36: Levantamento - Mapa de Uso do Solo (Fonte: acervo da autora) ............ 93 Figura 37: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 94 Figura 38: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 94 Figura 39: Mapa de dados do terreno (Fonte: acervo da autora) .............................. 97 Figura 40: Setorização do programa (Fonte: acervo da autora) ................................ 98 Figura 41: Estudo de volumetria I em planta (Fonte: acervo da autora) .................. 101 Figura 42: Estudo de volumetria I em vista (Fonte: acervo da autora) .................... 101 Figura 43: Estudo de volumetria II em planta (Fonte: acervo da autora) ................. 102 Figura 44: Estudo de volumetria II em vista (Fonte: acervo da autora) ................... 102 Figura 45: Representação de contenção com solo grampeado (Fonte: www.solotrat.com.br) ............................................................................................... 105 Figura 46: Térreo (Fonte: acervo da autora) ........................................................... 106


Figura 47: Piso Educativo (Fonte: acervo da autora) .............................................. 106 Figura 48: Piso Auditório (Fonte: acervo da autora) ................................................ 107 Figura 49: Implantação/Planta de cobertura (Fonte: acervo da autora) .................. 108 Figura 50: Corte 1 (Fonte: acervo da autora) .......................................................... 109 Figura 51: Cortes 2 e 3 (Fonte: acervo da autora) .................................................. 109 Figura 52: Corte 4 (Fonte: acervo da autora) .......................................................... 110 Figura 53: Fachada - rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) 110 Figura 54: Edifício em perspectiva (Fonte: acervo da autora) ................................. 111 Figura 55: O Homem Diverso (Fonte: http://www.cvi-rio.org.br) .............................. 112


LISTA DE TABELAS Tabela 1: Análise dos Estudos de Caso - Adequação para Acessibilidade .............. 57 Tabela 2: Análise dos Estudos de Caso - Intervenções Acessíveis .......................... 64 Tabela 3: Análise dos Estudos de caso - Projetos de referência Estética ................. 70 Tabela 4: Quadro nº 04 anexo da Lei nº 13.885/2004............................................... 96 Tabela 5: Parâmetros referentes à classificação do terreno escolhido ..................... 97 Tabela 6: Quadro de áreas do programa de necessidades ...................................... 99


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 2. O DESENHO UNIVERSAL .................................................................................... 20 2. 1 - Contextualização e Histórico ................................................................. 20 2.2 - Os 7 Princípios do Desenho Universal ................................................... 22 2.3 - Legislação Brasileira............................................................................... 23 3. A CIDADE, O EDIFÍCIO, O ESPAÇO ACESSÍVEL ............................................... 29 3.1 - Vivência e Acessibilidade ....................................................................... 30 3.2 - Acessibilidade x Estética ........................................................................ 32 3.3 - Cultura e sociedade ................................................................................ 37 4. ESTUDOS DE CASO ............................................................................................ 40 4.1 - Adequação para Acessibilidade ............................................................. 40 4.1.1 - Centro Cultural do Banco do Brasil, São Paulo......................... 41 4.1.2 - Museu Reina Sofia, Madrid, Espanha ....................................... 43 4.2 - Intervenções Acessíveis ......................................................................... 46 4.2.1 - Centro Cultural Palacio La Moneda, Santiago, Chile ................ 46 4.2.2 - Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP .................................. 50 4.3 - Projetos de Referência Estética ............................................................. 52 4.3.1 - Museu Maxxi, Roma, Itália ........................................................ 53 4.3.2 - Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA .................. 54 4.4 - Análise da acessibilidade nos estudos de caso ...................................... 57 5. O PROJETO .......................................................................................................... 76 5.1 - Pensando no projeto e nos princípios de Desenho Universal ................ 77 5.2 - Orientabilidade no ambiente construído ................................................. 81 5.3 - O projeto e os critérios da norma NBR 9050/2015 ................................. 87 5.4 - Terreno ................................................................................................... 91 5.4.1 - Levantamento Físico ................................................................. 91 5.4.2 - Zoneamento .............................................................................. 94 5.5 - Cálculos para a área de projeto .............................................................. 96 5.6 - Programa de Necessidades ................................................................... 98 5.7 - Primeiros Esboços ................................................................................ 100


5.7.1 - Estudo de volumetria I ............................................................ 100 5.7.2 - Estudo de volumetria II ........................................................... 101 5.8 - Partido do projeto ................................................................................. 103 5.9 - PROPOSTA .......................................................................................... 105 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 112 7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 113


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1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história, muitos arquitetos se preocuparam em realizar estudos para determinar uma relação ideal entre as dimensões físicas do ser humano e os espaços que iriam ocupar para a realização de suas várias atividades, como fator decisivo para o processo projetual. Em 27 a.C., Marcus Vitruvius Pollio estudou essa questão e apresentou um modelo ideal de escala para o ser humano, segundo raciocínio matemático que se baseava na divina proporção. Durante o período da Renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519) representou graficamente a perfeição dessas medidas humanas ao inscrever o homem vitruviano dentro de duas figuras geométricas elementares: o círculo e o quadrado. Os estudos do arquiteto Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier, também estão descritos dentro dessa mesma concepção. Le Corbusier dedicou-se ao desenvolvimento de uma medida universal para a arquitetura e, em 1948, criou o Modulor - sistema de medidas baseado nas proporções de um indivíduo supostamente ideal, inicialmente com 1,75m e mais tarde com 1,80m de altura.

Figura 1: Homem Padrão (Imagem editada pela autora)


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As

atividades

humanas

estão

relacionadas

com

três

dimensões

arquitetônicas: a dimensão micro, onde são abordadas questões referentes à escala do homem; a dimensão média, com questões referentes à escala das edificações; e a dimensão macro, onde é abordada a escala da cidade; e, para a definição de projetos em cada uma dessas áreas, é necessário contar com uma base de medida para o corpo humano. A cidade é como um cenário onde acontece a interação entre diferentes pessoas na sociedade, um espaço no qual todos devem ter a oportunidade de realizar suas atividades com equidade, ou seja, todos devem ter seus direitos assegurados de forma igualitária. Essa interação entre as pessoas estabelece uma relação de coletividade e convívio dentro do espaço urbano, mas, para que esta interação contemple a diversidade humana, é necessário oferecermos condições de acessibilidade para que todos possam ter assegurado seu direito primordial de ir e vir. Preocupados com a questão da organização das cidades, um grupo de 28 arquitetos liderados por Le Corbusier, Hélène de Mandrot e Sigfried Giedion fundaram, em 1928, os CIAM - Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne). O CIAM foi um dos muitos manifestos do século 20 que pretendeu difundir a causa da arquitetura como arte social e, para isso, os principais arquitetos modernos europeus organizaram uma série de eventos com o objetivo de discutir os rumos da arquitetura, do urbanismo e do design para difundir os princípios do Movimento Moderno. Em 1933, em Atenas, foi realizado o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna cujos debates deram origem a um documento conhecido como Carta de Atenas. A Carta aborda questões sobre o patrimônio histórico das cidades, respeitando sua personalidade e seu passado, se consolidando como um documento sobre teoria e metodologia de planejamento urbano. Este documento aborda as cidades sob o ponto de vista de arquitetos, propondo análises a partir de seu estado atual e das situações críticas, apontando aspectos que deveriam ser respeitados para a melhoria da estrutura urbana, conforme descrito no artigo oitenta e sete: Art. 87 - Para o arquiteto, ocupado aqui com as tarefas do urbanismo, o instrumento de medida será a escala humana.


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A arquitetura, após a derrota, desses últimos cem anos, deve ser recolocada a serviço do homem. Ela deve deixar as pompas estéreis, debruçar-se sobre o indivíduo e criar-lhe, para sua felicidade, as organizações que estarão à volta, tornando mais fáceis todos os gestos de sua vida. Quem poderá tomar as medidas necessárias para levar a bom termo essa tarefa, senão o arquiteto, que possui o perfeito conhecimento do homem, que abandonou os grafismos ilusórios, e que, pela justa adaptação dos meios aos fins propostos, criará uma ordem que tem em si sua própria poesia? (CARTA DE ATENAS)

Na década de 1950, a expansão desordenada das cidades deu origem à formação de guetos, núcleos de pobreza e exclusão social, que desencadearam uma série de debates na tentativa de reverter esses problemas. Porém, os arquitetos perceberam que os modelos e padrões urbanos organizados e descritos pela Carta de Atenas já não atendiam mais as necessidades das cidades da época, e começaram a avaliar novas propostas para remodelação dos padrões urbanos e arquitetônicos, colocando o movimento moderno em crise. Em 1952, com o rompimento dos CIAM's, surgiram movimentos que incentivavam a redescoberta das cidades, propondo a reversão de suas bases e valores, utilizando como principal instrumento as derivas. Em consequência destes movimentos, a Carta de Atenas foi reavaliada em 1977, em um novo Encontro Internacional de Arquitetos, em Machu Picchu, no Peru, resultando num documento conhecido como Carta de Machu Picchu. Este novo documento tem como objetivo geral para o planejamento urbano, a interpretação das necessidades humanas e a elaboração de propostas que estejam dentro de um contexto apropriado à diversidade da população. O homem vitruviano e a Carta de Atenas foram modelos que surgiram como uma proposta de padronização para o desenvolvimento de projetos, na tentativa de incluir a todos pela média, o que acabou evidenciando a exclusão de todo e qualquer indivíduo que não se enquadrasse nestes padrões. A partir daí surgiu o equivocado pressuposto de que é o homem que deve se adaptar ao ambiente e não o contrário.


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A relação das pessoas com o ambiente é uma relação de mão dupla. A deficiência resulta da interação entre as pessoas e as barreiras arquitetônicas, em primeiro lugar, mas também as atitudinais.

Figura 2: Deficiência segundo a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Imagem editada pela autora)

Quando uma pessoa com deficiência está em um ambiente acessível, suas atividades são preservadas, e a deficiência não afeta suas funções. Em uma situação contrária, alguém sem qualquer deficiência colocado em um ambiente hostil e inacessível pode ser considerado deficiente para esse espaço. (CAMBIAGHI, 2007)

Quando o ambiente construído não leva em consideração as necessidades ou limitações humanas, ele pode chegar a ser mais inóspito que o meio natural. Há alguns anos, detectou-se que as pessoas que enfrentavam problemas com o ambiente não eram somente aquelas que tinham deficiências. Criou-se então a expressão pessoas com mobilidade reduzida para definir o grupo social com problemas de acesso e utilização dos ambientes construídos. Essa denominação inclui pessoas com deficiência, crianças, idosos, pessoas carregando pacotes, empurrando carrinhos de bebê, carrinhos de compra e aquelas que estão com alguma lesão temporária. (CAMBIAGHI 2007, p.46)

O professor de arquitetura da Universidade da Califórnia em Berkeley, Raymond Lifchez, afirma que a arquitetura só pode ser capacitante se os arquitetos desenvolverem empatia, ou seja, é necessário adquirirmos vivências para desenvolvermos percepções acerca das dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam para acessar espaços e ambientes internos e externos, sejam eles públicos, privados ou particulares.


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Neste contexto, vale ressaltar a relevância do papel do arquiteto e urbanista em

criar

propostas

que

garantam

acessibilidade

a

todas

as

pessoas,

independentemente de sua idade, habilidade, dimensão ou condição física e sensorial, na tentativa de eliminar as barreiras para que elas possam usufruir de ambientes e oportunidades em igualdade de condições, de modo autônomo, seguro e sem esforços desnecessários, através da aplicação do conceito de Desenho Universal.


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2. O DESENHO UNIVERSAL

Em 1963, foi criada em Washington, EUA, uma comissão denominada Barrier Free Design (Design sem Barreiras) para discutir questões relativas aos desenhos de projetos arquitetônicos, questionando projetos modulares, desenvolvidos por arquitetos e urbanistas durante o período da arquitetura moderna, que se baseavam nos padrões humanos de Vitruvius e Le Corbusier. A expressão desenho universal foi utilizada pela primeira vez em 1985, nos EUA, pelo arquiteto Ronald Mace1, usuário de cadeira de rodas e respirador artificial, na tentativa de remodelar os conceitos dos projetos de arquitetura e design para que os ambientes projetados fossem adequados às necessidades de todos os indivíduos, principalmente àqueles com características físicas diferentes das estabelecidas para o "homem padrão". O desenho livre de barreiras foi pensado, inicialmente, para pessoas com algum tipo de limitação física ou sensorial, mas acabou, muitas vezes, dando origem a locais de segregação. A partir da evolução para Desenho Universal, os conceitos passaram a ser mais abrangentes, visando atender a todos: crianças, adultos, idosos, pessoas com mobilidade reduzida, pessoas com baixa visão, obesos, grávidas, altos, baixos, pessoas com carrinhos de bebê, etc. Desta forma, o conceito de desenho universal representa a real possibilidade de garantir que o indivíduo possa desfrutar de ambientes e oportunidades iguais aos cidadãos considerados "normais", sem receber um tratamento discriminatório devido à suas características pessoais.

2. 1 - Contextualização e Histórico

Os princípios do Desenho Universal e da Arquitetura Inclusiva surgiram após a 2ª Guerra Mundial, devido a muitos veteranos de guerra mutilados não conseguirem mais exercer funções do dia-a-dia, evidenciando as dificuldades frente às barreiras arquitetônicas e o desconforto nas edificações quando utilizadas por pessoas com deficiência. 1

Ronald Mace (1941-1998): arquiteto americano, formado em design. Criador do termo desenho universal e fundou o Centro de Design Universal da Universidade Estadual da Carolina do Norte.


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Com o fim da guerra, houve uma evolução na busca por alternativas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência, resultando no desenvolvimento de diretrizes para a acessibilidade, através da criação de leis, normas e informações para que estas pessoas pudessem utilizar os ambientes de forma segura e autônoma. A partir destas discussões, a Organização das Nações Unidas deu início a um programa de sensibilização e conscientização geral em relação à reabilitação de militares e, também, de vítimas civis que retornaram doentes ou mutiladas dos conflitos da guerra, buscando fazer com que estas e outras pessoas com deficiência passassem a ser reconhecidas e ter os seus direitos assegurados, através de documentos nacionais (EUA) e internacionais, que propõem a valorização da diversidade humana e trazendo visibilidade para esses grupos mais vulneráveis, de forma a promover a cidadania e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Na década de 1970, surgiram as primeiras padronizações (normas e leis) de acessibilidade nos EUA. Em 1972, a Universidade de Berkeley (EUA) organizou um grupo de estudos sobre acessibilidade e implantou a primeira rampa acessível da cidade, que recebeu, inclusive, uma placa comemorativa. Em seguida, em 1975, a Assembleia Geral da ONU promulgou a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. No ano de 1979, o professor de arquitetura da Universidade de Buffalo (EUA), Edward Steinfeld2, desenvolveu um estudo comparativo entre os custos de uma obra quando ela é projetada e edificada de forma acessível atendendo aos conceitos de desenho universal, e os custos para uma adaptação aos critérios de desenho universal para uma edificação já existente. A partir de sua análise, Steinfeld concluiu que os custos para realizar uma adaptação com características livres de barreira em um edifício já existente seriam de 4 a 35% vezes mais caros do que construí-los com acessibilidade desde o princípio. No início dos anos 1980, o Conselho Sueco de Pesquisa (Vetenskapsradet) órgão oficial do governo sueco que promove pesquisas em vários campos - realizou uma pesquisa no campo da construção na qual identificou que os custos adicionais

2

Edward Steinfeld (1946): arquiteto americano e professor da Universidade de Buffalo (EUA) com mais de 100 publicações e 3 patentes. Conhecido internacionalmente por suas pesquisas e palestras nas áreas de desenho universal, acessibilidade e design para a vida.


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para uma construção acessível variam entre 0,5% e 1% acima dos custos totais de construção. Em 1981, a ONU declarou este ano como o Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência. No ano seguinte, a ONU aprovou o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência (PAM), com o objetivo de assegurar às pessoas com deficiência o direito de terem as mesmas oportunidades que os cidadãos considerados "comuns", em igualdade de condições, para assegurar-lhes melhorias na condição de vida por meio do desenvolvimento econômico e social. No Brasil, os conceitos de Desenho Universal e Acessibilidade só começaram a ser discutidos na década de 1980, após a ONU ter declarado o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência.

2.2 - Os 7 Princípios do Desenho Universal

O desenho universal foi criado com o objetivo de desenvolver projetos, objetos e acessórios para atender a todos os tipos de usuários, assegurando uma acessibilidade plena. Na década de 1990, o arquiteto Ronald Mace criou um grupo formado por arquitetos e pesquisadores do Centro de Desenho Universal da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, para debater sobre o assunto e definiram sete princípios para o desenho universal, sendo eles: 1) Uso Equitativo Propor espaços, objetos e produtos que possam ser utilizados por usuários com diferentes habilidades e prover os mesmos significados de uso para todos os usuários, a fim de evitar a segregação. 2) Flexibilidade de Uso Criar

ambientes

ou

sistemas

construtivos

que

permitam

adequações

e

transformações a um largo alcance de preferências e habilidades individuais, possibilitando que o usuário faça sua escolha na forma de utilização. 3) Uso Simples e Intuitivo Uso de fácil entendimento, independentemente da experiência, do conhecimento, das capacidades linguísticas ou do grau de concentração dos usuários, eliminando complexidades desnecessárias e sendo coerente com as expectativas e intuição do usuário.


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4) Informação Perceptível Utilização de diferentes meios de comunicação, como símbolos, informações sonoras, táteis, entre outros, para a compreensão de usuários independentemente das condições e das habilidades sensoriais de cada um. 5) Tolerância ao Erro (Segurança) Considerar a segurança na concepção de ambientes e a escolha de materiais de acabamento e demais produtos a fim de minimizar os riscos e as consequências adversas de possíveis acidentes, organizando de forma mais protegida os elementos que possam oferecer algum perigo em potencial. 6) Mínimo Esforço Físico Dimensionar elementos e equipamentos para que sejam utilizados de maneira eficiente, segura, confortável exigindo um mínimo de energia, permitindo que o usuário mantenha a posição do corpo neutra e a força a ser utilizada seja de moderada intensidade. 7) Tamanho e Espaço para Acesso e Uso Acesso e uso abrangente aos espaços, possibilitando sua utilização por usuários de acordo com suas necessidades para atividades cotidianas de forma a acomodar variações ergonômicas. Esses princípios, quando são utilizados como instrumento para a orientação de projetos desde sua fase de concepção, eliminam custos de adaptações restritas e oferecem maiores alternativas tanto de conforto nas soluções de acessibilidade quanto nas opções de elaboração estética em harmonia com o conjunto arquitetônico em desenvolvimento, possibilitando a criação de espaços que consigam

atender

a

todos

independentemente

de

suas

necessidades

e

características pessoais.

2.3 - Legislação Brasileira

No Brasil, os conceitos de desenho universal só começaram a ser discutidos a partir da década de 1980, com o objetivo de conscientizar os profissionais da área de construção sobre a acessibilidade, o que resultou em adequações da legislação e normas técnicas.


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No ano de 1985, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a primeira norma referente à acessibilidade do país: a primeira versão da norma ABNT NBR 9050 - Adequação das Edificações e do Mobiliário Urbano à Pessoa Deficiente. A norma foi revisada em 2004 e, novamente, em 2015. Após três anos da criação da primeira norma brasileira de acessibilidade, foi promulgada a Constituição Federal de 1988, que afirma em seu artigo 227, parágrafo segundo: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (...) § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988)

Este artigo ressalta o caráter social fundado em valores como a dignidade humana e a cidadania, norteando toda e qualquer iniciativa privada e pública, e cita explicitamente a garantia do acesso às pessoas com deficiência. Em outubro de 1989, foi editada a Lei nº 7.853 que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social e sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, de acordo com o artigo segundo: Art. 2º - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (LEI Nº 7.853/89)


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Dez anos depois, em 1999, foi criado o Decreto nº 3.298 para regulamentar essa Lei nº 7.853/89, que estabelece como um dos objetivos da Política Nacional a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, assegurando seu acesso, ingresso e permanência em todos os serviços oferecidos à comunidade, a partir das alterações da redação do seu artigo segundo: Art. 2º - Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (DECRETO Nº 3.298/99)

No ano de 1994, no Rio de Janeiro, aconteceu o VI Seminário IberoAmericano de Acessibilidade ao Meio Físico, onde o arquiteto americano Edward Steinfeld apresentou seus conceitos de desenho acessível e universal. Segundo o arquiteto, desenho acessível é diferente de desenho universal; Steinfeld diz que o desenho acessível trata de produtos e edifícios acessíveis para pessoas com deficiência, enquanto que o desenho universal prevê o atendimento a todos os usuários, de forma a incluir também a população com limitações para um melhor desempenho de tarefas e uso dos espaços. Em 2000, foram criadas duas leis federais: as leis nº 10.048 e nº 10.098. A Lei Federal nº 10.048/00 tem como objetivo garantir a prioridade de atendimento às pessoas com deficiência, idosos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e obesos, conforme artigo primeiro. Já a Lei Federal nº 10.098, conhecida como Lei Nacional de Acessibilidade, prevê o estabelecimento de normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida: Art. 1º - Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na


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construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. (LEI FEDERAL Nº 10.098/00)

O objetivo da lei nº 10.098 é suprimir as barreiras e obstáculos das vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e na reforma de edifícios já existentes, nos meios de transporte e meios de comunicação. Além de prever a garantia da acessibilidade no meio físico, a lei também aborda a acessibilidade nos sistemas de comunicação para garantir o direito de acesso à informação. No ano de 2004, foi criado o Decreto Federal nº 5.296 que regulamenta as leis federais nº 10.048/00 e nº 10.098/00 (Lei Nacional de Acessibilidade), define parâmetros para as normas técnicas da ABNT e revisa a NBR 9050. Ainda em 2004, ocorreu a Conferência Internacional sobre Desenho Universal, no Rio de Janeiro, para difundir os conceitos do desenho universal. Em 2005, foi aprovada a Lei nº 11.126, que dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia, de acordo com o artigo primeiro: Art. 1º - É assegura de cão-guia o direito de ingressar e de permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo, desde que observadas as condições impostas por esta Lei. (LEI Nº 11.126/05)

Em março de 2007, ocorreu a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pela ONU, com o objetivo de promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e equitativo dos direitos humanos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua inerente dignidade. O Brasil assinou seu Protocolo Facultativo na busca pela implementação dos direitos das pessoas com deficiência e ratificou a convenção com status de emenda constitucional. Foram definidos prazos para a aplicação da acessibilidade nas edificações de uso público e privado; as de uso público com previsão para junho de 2007, e as de uso privado com previsão para dezembro de 2008. Em 2009, foi criado o Decreto Federal nº 6.949, que promulga a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência cujo Protocolo Facultativo havia sido assinado em março de 2007, em Nova York. O artigo 9 do


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decreto assegura às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações de uso público: Art. 9 - Acessibilidade 1. A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às

pessoas

com

deficiência

o

acesso,

em

igualdade

de

oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. (DECRETO FEDERAL Nº 6.949/09 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA)

E por fim, no ano de 2015, foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146, de acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, com o objetivo de assegurar e promover o exercício dos direitos da pessoa com deficiência, visando sua inclusão social e cidadania. Art. 1º - É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. (LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO Nº 13.146/15)

A Lei Brasileira de Inclusão, citada acima, tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo nº 186/08. É sabido e citado em livros e palestras dos especialistas no tema de acessibilidade e desenho universal que a simples existência das normas e leis não são suficientes para garantir seu cumprimento e garantir a acessibilidade no cotidiano e na realidade das pessoas com deficiência. Enquanto arquitetos temos


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não apenas a responsabilidade mas também a oportunidade de nos debruçarmos sobre esse tema, nos apropriarmos das melhores práticas para elaborar proposições que não se restrinjam apenas à preocupação quanto ao cumprimento dessas normas, mas sobretudo sobre a possibilidade de agregar, através do nosso trabalho, maior qualidade de vida e bem estar para essas pessoas, além de assegurar o direito à cidadania ao construirmos acessos ao invés de projetarmos barreiras.


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3. A CIDADE, O EDIFÍCIO, O ESPAÇO ACESSÍVEL

Na arquitetura, assim como em outras áreas, os projetos devem atender aos requisitos de legislação e aos objetivos de uso e função, assegurando conforto, segurança e bem estar aos usuários mas, também, contemplando a estética e o diálogo com o entorno. Atualmente, o Brasil conta com uma das mais avançadas legislações sobre acessibilidade. Porém, apesar dos numerosos amparos jurídicos e do vasto conhecimento técnico, a maioria dos arquitetos, urbanistas e engenheiros ainda não cumprem adequadamente com os requisitos das normas de acessibilidade. As cidades se caracterizam e se qualificam como lugares de ação onde as pessoas transitam buscando realizar suas atividades e, neste esforço, convivem com os elementos do ambiente, que podem ser seus apoios ou seus obstáculos. [...] as cidades se tornarão efetivamente democráticas para esse seguimento quando superarem as barreiras urbanas, e todos os cidadãos, deficientes ou não, capacitados a participar ativa e igualitariamente das decisões coletivas. Uma cidade para ser acessível,

precisa

atender

as

diferentes

necessidades

[...]

(MASSARI, 2007)

A acessibilidade, na grande maioria das vezes, não é considerada uma prioridade na fase de concepção dos projetos arquitetônicos. Em muitos projetos são realizadas apenas adaptações para que os edifícios estejam de acordo com as leis e normas de acessibilidade, ao invés de serem projetados pensando em todos os tipos de usuários desde o início, ao invés de serem projetados dentro dos princípios do desenho universal. Esta abordagem costuma resultar em soluções inadequadas que acabam gerando ambientes de má qualidade, geralmente caracterizados pela falta de integração com espaços adjacentes onde, por vezes, se tornam espaços de segregação.

Para

evitar

este

tipo

de

solução

é

necessário

pensarmos

profundamente nas necessidades a serem atendidas como um todo, buscar referências de soluções eficientes já adotadas em outras edificações e manter-se atualizado sobre as novas tecnologias de apoio para a adequação à acessibilidade de espaços já construídos.


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Edward Steinfeld realizou um estudo onde concluiu que os custos para a realização de uma adaptação em um edifício já existente seria de 4 a 35% mais caro do que construí-los com acessibilidade desde o princípio. Por que não, então, projetar pensando na melhor qualidade de vida e utilização dos espaços para todos? Por que não projetar com base nos princípios de desenho universal? Muitas vezes, quando se fala em acessibilidade, as pessoas pensam apenas na pessoa com deficiência física, principalmente no cadeirante. Segundo o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, cerca de 24% da população brasileira (o equivalente a 46 milhões de brasileiros) possuem algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, mental, motora ou visual. Ao projetar um espaço é necessário levar em consideração alternativas que permitam um melhor aproveitamento dos espaços pelos usuários. Quando pensamos na organização e disposição de espaços internos, por exemplo, estamos pensando automaticamente na relação entre forma e função das edificações, de modo a harmonizar os espaços. Quando se projeta visando um melhor aproveitamento dos espaços, estamos melhorando a qualidade de vida dos usuários. Esses conceitos também passaram a vigorar nos projetos de residências, surgindo a visão de casa para a vida toda. Isso garante que a moradia pode sofrer mudanças e adaptações ao longo dos anos para atender as diversas necessidades que venham a surgir ao longo da vida do usuário, sem prejuízo ou comprometimento do espaço.

3.1 - Vivência e Acessibilidade

Quem nunca passou pela experiência de lidar com os desafios de deslocamento diante das incontáveis barreiras de acesso, tanto no meio urbano quanto no interior das edificações, não tem a noção do quão imprescindível é o olhar do arquiteto sobre esta questão, pois é da dificuldade de acesso que deriva a maior deficiência e dependência que um ser humano pode experimentar ao tentar exercer o seu direito de ir e vir. Desde criança, presencio algumas dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência, principalmente pelas pessoas com mobilidade reduzida, através da convivência com a minha irmã que é cadeirante, hoje com 18 anos. Devido à falta de


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acessibilidade na cidade, oportunidades de acesso aos equipamentos de lazer nos parques infantis, como por exemplo, balanços, gangorras, escorregadores, eram bem difíceis, o que também impactava na interação com outras crianças, pois esses brinquedos não possuíam nenhum tipo de adaptação para pessoas com deficiência. As poucas e únicas vivências nesses locais eram a partir de adaptações artesanais feitas pelos meus pais, na tentativa de dar oportunidade a ela de vivenciar essas experiências lúdicas tão importantes para as crianças, mas com a segurança necessária para não sofrer acidentes. Outra grande dificuldade foi o acesso às escolas. Quase sempre não possuíam acessibilidade para a pessoa com deficiência chegar às salas de aula; muitas vezes precisando ser carregada por funcionários pelas escadas. Além das dificuldades provocadas pela falta de acessibilidade arquitetônica havia, também, a dificuldade de acesso devido a barreiras atitudinais. Consultórios médicos, de psicologia e de psicopedagogia também são desafios para pessoas com deficiência. Muitos consultórios funcionam em sobrados sem acessibilidade, levando o paciente com deficiência a ser carregado para o piso superior ou obrigando-o a receber o atendimento na recepção, sem falar na falta de acessibilidade em banheiros, que muitas vezes não permitiam acesso para o cadeirante passar pela porta. Ainda com relação aos consultórios, outro tipo de barreira encontrada com muita frequência são os carros estacionados em frente aos sobrados, inviabilizando a passagem da cadeira de rodas pelo estreito espaço entre os carros e os muros de delimitação do terreno, o que muitas vezes é difícil até mesmo para pessoas obesas e idosas, com bengalas, muletas e andadores. Além dessas, muitas outras situações sempre precisaram ser vencidas com muita determinação e criatividade. Entretanto, mesmo com tantas dificuldades, nunca deixamos de frequentar esses locais. Eu sempre procurei observar atentamente essas dificuldades e barreiras e me perguntava como poderiam ser solucionadas. Hoje, após a convivência com pessoas que possuem outros tipos de deficiência (auditiva, intelectual e visual) percebo outras dificuldades e também elementos que facilitam o deslocamento e utilização de espaços para essas pessoas, como por exemplo pisos táteis, placas informativas simples, entre outros. Acredito que é necessária uma transformação no olhar dos arquitetos; o arquiteto tem o dever de projetar espaços obedecendo a objetivos específicos de uso e função mas, também, de modo a oferecer conforto, segurança e bem estar


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aos usuários. Porque não começar a projetar utilizando os princípios do desenho universal como ferramenta para evitar a criação de barreiras arquitetônicas?

3.2 - Acessibilidade x Estética

A acessibilidade é frequentemente abordada apenas como uma questão de adaptação, uma mera exigência de adequação à lei onde, por vezes, é deixada de lado por ser considerada um elemento limitador da estética dos projetos. E muitos arquitetos possuem essa visão de incompatibilidade entre a função e a estética com questões de acessibilidade. Na arquitetura, os projetos são resultantes do conhecimento específico na área, da vivência do profissional e da criatividade, mas, sobretudo, são fundamentalmente influenciadas pelos valores cultivados, ou seja, pela maneira como enxergamos a vida. Analogamente, a maneira como os arquitetos enxergam o papel da arquitetura influencia diretamente a prioridade que eles elegerão como premissa para sua forma de projetar. No movimento moderno, por exemplo, tivemos várias correntes onde cada uma elegeu suas prioridades segundo as quais a forma era orientada (função, comportamento, contexto, etc.) que foi o ponto de partida para seu processo projetual. No início do século XX, após o período do Art Nouveau (aproximadamente entre 1890 e 1910), o movimento moderno passou a incluir os princípios do funcionalismo e racionalismo em seus projetos, discutindo questões de uso e função, para uma melhor adequação dos materiais a serem utilizados. Os princípios do funcionalismo na arquitetura resgatam um antigo conceito descrito na Tríade de Vitrúvio, que se baseava em três elementos fundamentais da arquitetura: utilidade e comodidade (utilitas), beleza (venustas) e solidez (firmitas). Portanto, segundo esta tríade, uma construção só passará a ser chamada de arquitetura quando ela possuir uma função, estiver firme e bem estruturada e for bela.


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Figura 3: Tríade Vitruviana (Imagem editada pela autora)

Louis Henry Sullivan3 foi o primeiro arquiteto modernista a defender a teoria de que a forma segue a função, com inspiração nos conceitos de Horatio Greenhough4, de que forma e função coincidem. É a lei das coisas orgânicas e inorgânicas, de todas as coisas físicas e metafísicas, das coisas humanas e sobre humanas, de todas as verdadeiras manifestações da mente, do coração e da alma, que a vida é reconhecida na sua expressão, que a forma sempre segue à função, é uma lei. (SULLIVAN, 1896)

Sullivan afirmava que se a forma segue a função, os projetos deveriam possuir um caráter mais orgânico, já que a forma também era influenciada pela necessidade de se vivenciar a beleza. Ele afirmava, ainda, que uma vez satisfeitos os aspectos funcionais, a beleza arquitetônica surgirá de forma natural. Na década de 1890, Sullivan marcou uma ruptura no pensamento moderno vigente até então, através da arquitetura dos arranha-céus, colocando em prática suas teorias. Acreditava que a forma deveria ter uma identidade própria advinda de sua função e que os arranha-céus eram produto da soma de forças sociais e tecnológicas. Dessa maneira, concebeu uma expressão estética nunca antes vista para seus arranha-céus, acentuando sua verticalidade.

3

Louis Henry Sullivan (1856-1924): arquiteto americano e um dos pioneiros em arquitetura de arranha-céus da Escola de Chicago. Responsável pela revolução no movimento moderno devido à sua teoria de que a forma segue a função. 4

Horatio Greenhough (1805-1852): escultor e teórico americano contemporâneo de Sullivan.


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Adolf Loos5 foi outro arquiteto a considerar o emprego de formas simples e adequadas ao uso prático. Loos considerava impossível que um projeto sem um uso prático fosse belo, que era a eficiência que gera a beleza da edificação. Esse pensamento minimalista de que é a eficiência que determina a forma do edifício influenciou trabalhos de arquitetos como Le Corbusier e Mies van der Rohe, gerando uma mudança no olhar dos arquitetos modernistas para a questão da funcionalidade e usabilidade de seus projetos. Loos tentou estabelecer um método de projetar edifícios utilizando como base a razão pragmática; seus edifícios eram projetados baseando-se em formas puras e eram orientados em função de sua viabilidade econômica e qualidade de utilização. Ele acreditava que tudo que não pudesse ser justificado pela razão era passível de eliminação. Chegou a trabalhar em parceira com Sullivan para a elaboração de um projeto para o Chicago Tribune. Em 1896, quando inaugurou seu atelier de arquitetura em Viena, Loos flexibilizou suas ideias ampliando sua preocupação com questões estéticas resultando em novas formas de construção. Na década de 1930, o funcionalismo começou a ser discutido com maior aproximação da forma estética, incorporando-a aos princípios de usabilidade e funcionalidade nos projetos. A ideia era manter a função e uso em primeiro plano, o que acabou sendo visto de forma pejorativa, por ser associado às formas mais simples e comerciais de se construir edifícios. Foi então que começaram a surgir novos conceitos dentro da arquitetura moderna,

como

a

arquitetura

orgânica,

por

exemplo.

Influenciado

pelos

ensinamentos e teorias de Louis Sullivan, o arquiteto Frank Lloyd Wright 6 começou a discutir e introduzir os conceitos de organicidade ao modernismo, buscando relacionar a arquitetura, o homem e a natureza. Wright afirmava que a arquitetura orgânica era uma reinterpretação dos princípios da natureza, onde a arquitetura se relaciona com o ambiente de forma a criar uma continuidade entre espaço interno e externo, trazendo coerência entre a edificação e o todo. Ele partia do princípio de que a arquitetura orgânica é como um organismo vivo, que nasce das necessidades dos indivíduos.

5

Adolf Loos (1870-1933): arquiteto austríaco e um dos pioneiros da arquitetura moderna. Em 1922, trabalhou em parceria com o arquiteto Luis Henry Sullivan em um projeto para o Chicago Tribune. 6

Frank Lloyd Wright (1867-1959): arquiteto e escritor americano. Influenciou os rumos da arquitetura moderna com suas ideias e obras e é considerado um dos arquitetos mais importantes do século XX.


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Um dos conceitos centrais nas obras de Wright é que o projeto deve ser individual, de acordo com sua localização e finalidade. Influenciado pela revolução industrial, ele criava uma nova arquitetura para residências buscando novas tecnologias que ajudassem a melhorar a qualidade de vida dos usuários e enfatizava a relação entre forma e função da edificação de forma harmoniosa, na tentativa de harmonizar, também, a relação entre o homem e a natureza. Com a chegada do movimento pós-moderno, houve uma reformulação nos conceitos de forma e função. A forma passou a ser derivada da soma de três fatores: a eficiência funcional e construtiva; o esforço de se obter a beleza; e o significado cultural. Isso significa que a forma deve ser autônoma, ou seja, a busca da forma também deve ser orientada por princípios como a forma segue a estética e o significado. Quando começamos a pensar num partido de projeto com base nos princípios do desenho universal, uma ferramenta que tem fundamental relevância é a empatia. Observar e refletir sobre como diferentes pessoas percebem um espaço e se disponibilizar a vivenciar experiências sensoriais, tem um potencial de transformar a nossa percepção. Enquanto arquitetos temos a responsabilidade de projetar e conceber espaços com características de forma, estética, conforto e bem estar, que além de abrigar as pessoas que ali desempenharão as atividades a que este espaço se destina, irão perceber-se e sentir-se no interior deste espaço. Esta mudança na percepção provoca também uma transformação na nossa atitude ao observar e investigar ambientes. É como se abríssemos uma nova porta que dá acesso a outros sentidos. Lembro-me de uma vivência muito significativa que tive ao comparecer a uma apresentação de um grupo musical, onde um dos amigos do nosso grupo era uma pessoa com deficiência visual. Enquanto aguardávamos para entrar no auditório, ouvíamos as vozes do público que conversava no foyer. Nosso amigo disse: "este espaço é amplo, pois as vozes estão dispersas; se dissipam pelo espaço" e, ainda: "eu sinto uma corrente de ar passando por mim, parece haver uma porta larga à nossa direita". Esta vivência me fez compreender que a visão muitas vezes nos restringe, e me levou a refletir sobre as dimensões multissensoriais do espaço arquitetônico.


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A este respeito, no seu livro Os olhos da pele: a arquitetura dos sentidos (2005), o arquiteto finlandês Johani Pallasmaa aborda as relações entre a arquitetura e os sentidos e, através de sua capacidade e sensibilidade, ele traduz o impacto das dimensões da experiência humana na arquitetura. Eu confronto a cidade com meu corpo; minhas pernas medem o comprimento da arcada e a largura da praça; meu olhar, inconscientemente projeta meu corpo contra a fachada da catedral, onde ele passeia sobre as molduras e contornos, percebendo as dimensões das reentrâncias e saliências; o peso do meu corpo encontra a massa da porta da catedral e minha mão agarra o puxador à medida em que penetro no escuro vazio que segue. Eu me experimento na cidade, e a cidade existe através da minha experiência corporificada. A cidade e meu corpo se complementam e definem mutuamente. Eu moro na cidade e a cidade mora em mim. Experiências sensoriais se integram através do corpo, ou melhor, na própria constituição do corpo e no modo humano de ser. (...) nossos corpos e movimentos estão em constante interação com o ambiente; o mundo e o ser (self) informam e redefinem um ao outro constantemente. A noção de corpo e a imagem do mundo se tornam uma contínua experiência existencial; não há corpo separado de seu domicílio no espaço, e não existe espaço desvinculado da imagem inconsciente da percepção do ser (self). (PALLASMAA 2005, p. 40)

Quando pensamos em acessibilidade e desenho universal, esta percepção multissensorial nos convida a repensar o modo de materializar os espaços que pretendemos conceber. Esta percepção nos permite ressignificar os espaços de modo a ampliar as possibilidades de projeto e, consequentemente, aumentar qualidade desses espaços e seu potencial de utilização e conforto, de forma a tornálo atrativo e atender a diversidade. O espaço arquitetônico é o espaço vivido e não o espaço físico, e o espaço vivido transcende a geometria e a mensurabilidade. (PALLASMAA, 2005)


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3.3 - Cultura e sociedade

Na década de 1960, surgiram críticas sobre os conceitos de funcionalismo dentro do movimento moderno. Arquitetos como Robert Venturi, Philip Johnson, Michael Graves, Aldo Rossi e James Stirling começaram a discutir o excesso de funcionalidade nos projetos e as abordagens do movimento moderno em relação à visão urbanística das cidades, da desagregação das comunidades e das relações humanas, dando início e corpo ao movimento pós-moderno. O movimento pós-moderno teve grande força entre as décadas de 1970 e 1980, quando começou a desenvolver um novo estilo arquitetônico, trazendo o uso de referências históricas nos projetos em forma de colagem. Foi um período que também ficou caracterizado pelo avanço em descobertas e inovações tecnológicas, sociais, artísticas e científicas. Com os avanços tecnológicos no processo projetual, os edifícios passaram a assumir formas mais ousadas, fugindo do funcionalismo moderno. Os arranha-céus entraram em foco na construção arquitetônica e começam a surgir propostas de projeto voltadas para o desenvolvimento de edifícios comerciais e culturais. Os projetos para edifícios comerciais começavam a ser influenciados por grandes empresas internacionais que buscavam uma nova imagem corporativa, reforçando a associação desse novo estilo à nova cultura do consumo. Neste contexto, a cultura passa a ser definida como um fenômeno social produzido pelo homem onde, segundo David Harvey7, a ideia de coletividade se expande na arquitetura e na escala da cidade, fazendo com que os arquitetos passassem a considerar as condições culturais da sociedade nos projetos. Do mesmo modo como produzimos coletivamente as nossas cidades, também produzimos coletivamente a nós mesmos. Projetos que prefigurem a cidade que queremos são, portanto, projetos sobre (nossas) possibilidades humanas, sobre quem queremos vir a ser ou, talvez de modo mais pertinente, em quem não queremos nos transformar. (HARVEY 2000, p. 159)

7

David Harvey (1935): geógrafo britânico e professor da Universidade da Cidade de Nova York. Trabalha com questões voltadas à geografia urbana.


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A cultura passou a ganhar visibilidade dentro da sociedade principalmente após o surgimento dos centros culturais. Os centros culturais surgiram com o objetivo de reunir diversas funções em um mesmo local, criando um novo panorama de espaços e trazendo, também, exposições temporárias. Com isso, passaram a atrair um público maior, mais variado, o que aumentou a frequência de uso desses espaços, passando a impulsionar a economia e o consumo do capital. Com o aumento da utilização desses espaços, começam a surgir demandas de acessibilidade visando transformar os centros culturais em ambientes mutáveis, mais fluidos e contínuos, possibilitando uma melhor utilização desses espaços em busca de uma maior interação com o usuário. Tudo aquilo que o homem é e faz está ligado à experiência do espaço. Nosso sentimento do espaço resulta da síntese de numerosos dados sensoriais, de ordem visual, auditiva, cinestésica, olfativa e térmica. (Edward Hall, 1986 apud COHEN, 2006 p.35)

Em 2013, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizou o Congresso Internacional de Hangzhou e deste evento, resultou a emissão de um documento conhecido como a Declaração de Hangzhou no qual reconhece o potencial da cultura como um "motor" do desenvolvimento sustentável pois ela tem o poder de contribuir no desenvolvimento social inclusivo através da liberdade de expressão artística, por meio de programas culturais que incentivem a criatividade, reforçando as possibilidades e capacidades humanas e promovendo o entendimento mútuo e trocas culturais entre povos. (...) a cultura deve ser considerada como um fator fundamental da sustentabilidade, pois ela é uma fonte de sentido e de energia, de criatividade e de inovação, e um recurso para responder aos desafios e encontrar soluções apropriadas. (DECLARAÇÃO DE HANGZHOU, 2013)

Além de todo o potencial econômico e político da cultura, o que mais me motiva é a possibilidade da cultura e das artes em geral contribuírem para a valorização e o desenvolvimento das pessoas e, principalmente, para aquelas que encontram dificuldade de se capacitar através dos métodos convencionais de educação.


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À medida que os espaços culturais se tornam acessíveis, as pessoas com deficiência passam, também, a conseguir frequentar e usufruir desses espaços, não apenas como fonte de educação mas também como fonte de lazer e interação com outras pessoas, promovendo sua efetiva participação na sociedade e contribuindo para o nosso crescimento enquanto seres humanos. Com base nisso e no meu grande interesse de frequentar e conhecer espaços de cultura, optei por elaborar um projeto voltado para edifícios culturais, assumindo o desafio de colocar em prática os conceitos de desenho universal buscando uma conciliação entre estética e função. Para isto, selecionei alguns edifícios culturais como estudo de caso, que serão mostrados a seguir, para embasar meus estudos para o desenvolvimento da minha proposta.


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4. ESTUDOS DE CASO Existem várias definições para um estudo de caso. Robert K. Yin8, em Estudo de Caso: planejamento e métodos, conceitua um estudo de caso como uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto e destaca que, para investigá-lo devemos considerar: A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudos de caso, é que ele tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. (ROBERT K. YIN, 2010)

Para embasar minha proposta de trabalho utilizei como estratégia a investigação das soluções de acessibilidade encontradas nos estudos de caso, em diferentes espaços. Os estudos de caso foram divididos em três categorias: a primeira, Adequação para acessibilidade; a segunda, Intervenções acessíveis; e a terceira, Projetos de referência estética.

4.1 - Adequação para Acessibilidade

Nesta primeira modalidade serão exploradas edificações históricas onde foram realizadas simples adequações, através de equipamentos e dispositivos que viabilizem a circulação das pessoas com deficiências nos diversos ambientes, visando o cumprimento das normas e leis de acessibilidade. Como exemplo para esta seção, abordarei o Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, e o Museu Reina Sofia, em Madrid. A escolha do CCBB SP como um dos meus estudos de caso se deve ao fato do prédio ser um edifício histórico e cultural que foi adaptado e hoje conta com soluções que atendem aos diversos públicos, em conformidade com a norma NBR 9050. Além disso, oferece propostas interessantes como, por exemplo, um espaço

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Robert K. Yin (1941): cientista social americano formado em história pela Harvard College.


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tátil sensorial onde os visitantes com deficiência visual podem interagir com peças que exemplifiquem o conteúdo das exposições. O Museu Reina Sofia foi escolhido por ser também um edifício histórico que adotou soluções de acessibilidade, cujo aspecto visual da intervenção já é perceptível no primeiro contato com a fachada do edifício.

4.1.1 - Centro Cultural do Banco do Brasil, São Paulo

O edifício que hoje abriga o Centro Cultural do Banco do Brasil foi construído em 1901, na Rua Álvares Penteado, centro histórico da cidade de São Paulo. O edifício foi comprado pelo Banco do Brasil em 1923, e foi inaugurado em 1927 após sofrer uma reforma projetada pelo arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior, para que o edifício se transformasse em uma agência bancária. Na década de 1990, a agência bancária foi fechada e transformada em um Centro Cultural mantido pelo Banco do Brasil. O edifício passou por um processo de restauro e adaptação para acessibilidade realizado pelo arquiteto Luiz Telles, e foi reaberto em abril de 2001.

Figura 4: Fachada do CCBB em São Paulo, SP (Fonte: spcentrohistoricocultural.blogspot.com)


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O edifício possui uma mistura de estilos diferentes; na fachada, é possível notar a presença de elementos como arcos romanos, colunas gregas, janelas e portas nos estilos Art Déco e Art Nouveau, além de elementos de simetria. Na área interna, é possível notar que os capitéis das colunas seguem o estilo tradicional neoclássico. Os vitrais localizados na parte superior do edifício e as grades de ferro do mezanino e do primeiro andar apresentam curvas e florais pertencentes ao estilo Art Nouveau. E os lustres do Hall de entrada e as luminárias são caracterizadas com formas geométricas típicas do estilo Art Déco.

Figura 5: Fachada CCBB SP (Fonte: checkinsaopaulo.com)

Durante a reforma para se transformar em centro cultural, foram instalados alguns recursos de acessibilidade, como por exemplo: a construção de uma rampa de acesso localizada na entrada lateral do edifício (entrada através do café); foram implementados dois elevadores com botões em braile e ascensoristas; e construídos banheiros adaptados e instalados telefones acessíveis no piso térreo.


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Figura 6: Elevador de acesso ao antigo cofre (Fonte: acervo da autora)

Além desses recursos disponibilizados para a promoção da acessibilidade física, também foi desenvolvido um espaço tátil-sensorial, onde os visitantes com deficiência visual podem perceber elementos da exposição; e desenvolvidos aplicativos para celulares com o conteúdo das exposições em uma linguagem para audiodescrição.

4.1.2 - Museu Reina Sofia, Madrid, Espanha

MNCARS: MUSEU NACIONAL CENTRO DE ARTE REINA SOFIA No século XVI foi construída a primeira fundação do edifício, que hoje é a sede do museu, a pedido do rei Filipe II da Espanha para ser o Hospital San Carlos. O objetivo do rei era unificar, em um único prédio, todos os serviços hospitalares de Madrid. No século XVIII, devido às instalações insuficientes e inadequadas, o rei Carlos III decidiu fazer uma nova fundação para o hospital. Essa nova fundação foi projetada por José de Hermosilla e, posteriormente, por Francesco Sabatini, que assumiu o projeto após a morte de Hermosilla.


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Em 1788, após a morte de Carlos III, as obras foram interrompidas e o edifício foi ocupado, passando a funcionar como Hospital Geral de Madrid. Porém, como as obras haviam sido interrompidas, apenas um terço do projeto de Sabatini foi finalizado adequadamente e desde então o edifício passou por várias modificações, até ser fechado em 1965. O edifício esteve em vias de demolição até a rainha Sofia assinar um decreto real, em 1977, declarando-o Monumento Histórico-Artístico e assegurando sua sobrevivência. Em 1980, o prédio começou a ser restaurado pelo arquiteto Antonio Fernández Alba e foi reaberto em 1986, como Centro de Arte Reina Sofia, nome em homenagem à rainha. O centro de arte destinou os níveis 0 e 1 da antiga fundação do hospital para abrigar exposições temporárias. No final de 1988, as últimas modificações do espaço foram concluídas, incluindo a construção de três torres de elevadores em aço e vidro, projetadas em conjunto com o arquiteto britânico Ian Ritchie. Ainda em 1988, o Ministério da Cultura espanhola decretou-o como Museu Nacional.

Figura 7: Museu Reina Sofia, vista aérea (Fonte: Google Maps)

Em setembro de 1992, o rei Juan Carlos e a Rainha Sofia inauguraram o acervo permanente do museu que, até então, só havia recebido exposições temporárias. Em 2001, o museu sofreu uma remodelação e ampliação, desta vez projetada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, sendo reaberto em setembro de 2005. Nesta remodelação, um novo edifício foi incorporado ao já existente, na lateral do terreno, onde anteriormente funcionavam os edifícios anexos ao hospital. A proposta do


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 45

arquiteto francês era unificar o antigo edifício ao espaço comum, conectando-os com a criação de uma praça. Com essa ampliação, o museu ganhou cerca de 8 mil m², que foram divididos entre espaços para exposições temporárias, um auditório com capacidade para 500 pessoas, um auditório menor com capacidade para 200 pessoas, uma livraria, restaurante e administração.

Figura 8: Fachada do MNCARS; elevadores panorâmicos em aço e vidro (Fonte: en.wikipedia.org)

Figura 9: Edifício anexo, praça com escultura (Fonte: tienesplaneshoy.com)


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Como recursos de acessibilidade para a utilização do museu foram construídos elevadores panorâmicos externos, acessados através de rampas de acesso localizadas ao lado das escadas laterais da edificação. Além da acessibilidade física, o museu desenvolveu programas para a promoção da acessibilidade comunicacional, como por exemplo: visitas descritivas para deficientes visuais; audioguias; programa de exploração tátil de esculturas do acervo do museu; intérpretes em língua de sinais espanhola (ILSE); e folhetos em braile.

4.2 - Intervenções Acessíveis

Nesta segunda modalidade serão exploradas edificações onde foram realizadas intervenções com a criação de novos elementos que dialogam harmonicamente com a arquitetura do espaço já existente, a partir de reflexões mais aprofundadas sobre o espaço e os critérios de acessibilidade. Nos estudos de caso para esta seção, abordarei o Centro Cultural Palacio La Moneda, em Santiago, e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A escolha do Centro Cultural Palacio La Moneda como estudo de caso desta seção se deve ao fato de ser uma intervenção realizada em um edifício histórico, projetada no subsolo da edificação e com todos acessos feitos por meio de rampas. Já a Pinacoteca do Estado de São Paulo foi escolhida por ser um edifício histórico com uma intervenção pensada com o objetivo de atender todos os públicos e promover uma melhor circulação e acesso aos espaços e salas de exposição, além de oferecer propostas interessantes de acessibilidade cultural, como a galeria tátil por exemplo.

4.2.1 - Centro Cultural Palacio La Moneda, Santiago, Chile

O Palacio La Moneda foi projetado pelo arquiteto italiano Joaquín Toesca, para abrigar a Casa da Moeda, construído entre 1786 e 1805, quando o Chile ainda era uma colônia espanhola. O palácio possui estilo neoclássico e suas paredes


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foram construídas com pedras largas, chegando a mais de um metro de largura, para dar resistência aos frequentes abalos sísmicos que ocorrem na região. Em 1845, durante o mandato do presidente Manuel Bulnes Prieto, o palácio foi convertido em sede do Governo chileno e residência oficial de seus presidentes. A função de Casa da Moeda ainda foi mantida até 1929. Em 1932, foi realizada uma reforma no edifício e acrescentado um terceiro pavimento à fachada sul. Durante o golpe de estado de setembro de 1973, o palácio foi bombardeado e permaneceu fechado por muitos anos. Em 1981, durante a ditadura de Augusto Pinochet, o edifício foi reconstruído e reinaugurado. Após o fim da era Pinochet e com a redemocratização do Chile, o edifício foi repintado em sua cor original, branco gelo.

Figura 10: Palacio La Moneda, vista aérea (Fonte: Google Maps)

Em 2005, foi realizada uma intervenção pelo arquiteto Christián Undurraga, que construiu um centro cultural no subsolo do edifício e remodelou a área pública em frente ao palácio (que até então era utilizada como estacionamento dos carros oficiais), transformando-a numa grande praça aberta.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 48

Figura 11: Fachada do Palacio La Moneda (Fonte: archdaily.com.br)

O projeto do Centro Cultural foi construído no lado sul do Palacio La Moneda, sendo acessado por rampas localizadas na lateral do edifício. O projeto foi idealizado levando em consideração a utilização por todas as pessoas, contando com rampas de acesso internas e externas, além de elevadores (com botões em braile e sinalização sonora) que permitem que o público acesse os dois níveis do centro cultural. O projeto chegou a competir no Prêmio Rogelio Salmona e recebeu o menção honrosa.

Figura 12: Centro Cultural Palacio La Moneda, elevador interno (Fonte: Plataforma Architectura)


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Figura 13: Centro Cultural Palacio La Moneda, rampas internas (Fonte: Plataforma Architectura)

Figura 14: Centro Cultural Palacio La Moneda, vista da passarela (Fonte: Plataforma Architectura)


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4.2.2 - Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP

O edifício da Pinacoteca foi projetado por Ramos de Azevedo e Domiziano Rossi para ser a sede do Liceu de Artes e Ofícios. Foi fundado em 1905 e regulamentado como museu público estadual em 1911. Na década de 1990, sofreu uma reforma projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, para adequar o edifício às necessidades técnicas e funcionais de um museu atual. O projeto também contou com a participação dos arquitetos Eduardo Colonelli e Welliton Torres.

Figura 15: Fachada Pinacoteca do Estado de São Paulo (Fonte: temporadalivre.com)

A intervenção transformou o edifício de estilo neoclássico em um dos museus mais modernos do país, com espaços privilegiados capazes de organizar seu acervo e, ao mesmo tempo, receber exposições de nível internacional. Os pontos chaves da intervenção foram a construção das passarelas que atravessam os pátios, como eixos atravessados no edifício, de modo a criar acessos às salas e saguões do edifício; foi construído um elevador para o transporte do público e de obras ao museu; um laboratório para restauro de obras; uma biblioteca e a instalação de um sistema de ar condicionado nas áreas de depósito do acervo.


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Figura 16: Passarelas de acesso aos espaços de exposição (Fonte: higormap.wordpress.com)

Como recursos de acessibilidade, foi construído um elevador panorâmico interno com botões em braile e avisos sonoros; construídas passarelas de acesso ao elevador e à salas de exposição; implantado o piso tátil direcional; implementação de mapa tátil para localização; foram construídos banheiros adaptados em todos os pisos e um fraldário masculino no piso térreo.

Figura 17: Elevador panorâmico interno (Fonte: acervo da autora)

No último piso, foi implantada uma galeria tátil de esculturas brasileiras do acervo da Pinacoteca e um mapa tátil de localização das esculturas.


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Figura 18: Mapa Tátil da Galeria de Esculturas da Pinacoteca (Fonte: acervo da autora)

4.3 - Projetos de Referência Estética

Nesta terceira e última modalidade serão exploradas edificações que discutem questões estéticas em suas concepções projetuais juntamente aos objetivos de uso e função, analisando também os recursos de acessibilidade oferecidos por esses espaços. Como exemplo para esta seção, abordarei o Museu Maxxi, em Roma, e o Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York. No Museu Maxxi, o que me chamou mais a atenção foram as questões plásticas e estéticas que o projeto discute, e o diálogo entre as linhas e curvas da edificação que resultam em espaços amplos e livres. No Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York o que chamou mais atenção foram os aspectos plásticos e estéticos de suas formas orgânicas e puras, e a forma como foi pensada sua circulação vertical (rampa Slope). Isto fez dele um objeto de extremo interesse para estudo e reflexão para os objetivos da minha proposta.


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4.3.1 - Museu Maxxi, Roma, Itália

Em 1999, foi realizado um concurso para a elaboração de um projeto para o Museu Nacional de Artes do Século XXI, onde o projeto de Zaha Hadid foi o vencedor, levando 10 anos para ser construído. O edifício proposto por Zaha Hadid é uma composição de tubos retangulares dobrados e sobrepostos, cruzados e empilhados uns sobre os outros. A estrutura do edifício é composta de paredes laterais curvas feitas de concreto, escadas com perfis de aço pintados de preto e um teto aberto, recebendo luz natural.

Figura 19: Museu Maxxi, vista aérea (Fonte: Google Maps)

A ideia do projeto é indicar fluxos e caminhos que se sobrepõem e se conectam criando um espaço dinâmico e interativo. A continuidade dos espaços faz com que sejam adequados para qualquer tipo de exposição móvel e temporária, sem divisões de paredes ou interrupções.

Figura 20: Fachada Museu Maxxi (Fonte: grandearquitetura.com.br)

O Maxxi é dividido em dois museus: um voltado para a arte e outro para a arquitetura. Também possui um auditório, uma biblioteca com mídia especializada


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em arte e arquitetura, uma livraria, cafeteria, bar-restaurante e galerias para exposições temporárias, performances e atividades educacionais. A grande praça pública projetada em frente ao museu foi planejada para abrigar obras de arte e eventos ao vivo. Em 2010, o museu ganhou o Prêmio Stirling.

Figura 21: Museu Maxxi, interno (Fonte: archdaily.com.br)

Como recursos de acessibilidade, foram construído elevadores internos com botões em braile e avisos sonoros; rampas de acesso à algumas salas de exposição; e desenvolvidos audioguias das exposições.

4.3.2 - Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA

O museu, localizado em Nova York, foi projetado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright a pedido de Solomon Robert Guggenheim, e construído entre os anos de 1956 e 1959. O edifício é famoso por suas linhas curvas que representam a arquitetura moderna em sua forma mais orgânica. Por especificação de Solomon Guggenheim, o museu não poderia ser comparado de forma alguma com qualquer outro museu já existente. Então Wright decide utilizar formas geométricas que tem origem nas formas puras (cilindros, cones, polígono de três lados, etc.) e formas orgânicas. Esses elementos estão


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 55

presentes no edifício definindo a espacialidade dos ambiente e através dos detalhes construtivos.

Figura 22: Museu Solomon R. Guggenheim, vista aérea (Fonte: Google Maps)

O projeto trabalha com efeitos plásticos de planos flutuando sobre planos; uma sobreposição de camadas, cortadas e colocadas uma sobre as outras (de forma a estabelecer uma outra maneira de construir que não seja a tradicional).

Figura 23: Fachada do Museu Guggenheim em perspectiva (Fonte: greatbuildings.com)

A circulação vertical do museu é feita através da rampa Slope, uma rampa circular com inclinação de três graus que passa por todos os pisos do edifício.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 56

Figura 24: Museu Guggenheim, rampa Slope (Fonte: greatbuildings.com)

Além da rampa, outros recursos de acessibilidade oferecidos pelo museu são: elevadores com botões em braile; banheiros adaptados; intérpretes em ASL (american sign language); aplicativos para celulares com o conteúdo das exposições para audiodescrição; e teleconferências e videoconferências gratuitas para pessoas com limitações que não conseguem visitar o museu.

Figura 25: Museu Guggenheim de Nova York em corte (Fonte: designboom.com)


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4.4 - Análise da acessibilidade nos estudos de caso

Tendo em vista a minha proposta de trabalhar com Desenho Universal e por acreditar que o espaço construído tem papel fundamental na superação das dificuldades de circulação de pessoas com deficiência nos ambientes, adotei o estudo de caso como estratégia de investigação e, através deles, procurei observar e analisar características que contribuem para melhorar a experiência destas pessoas nos diversos ambientes, levando em consideração os critérios dos princípios do Desenho Universal, da Acessibilidade ao meio físico, e da orientação espacial para a composição de uma régua que me possibilitasse obter referenciais para estudar possibilidades para o meu projeto.

Tabela 1: Análise dos Estudos de Caso - Adequação para Acessibilidade

Adequação para Acessibilidade

Com base no partido do projeto

Terreno

Características do projeto

O edifício (distribuição dos espaços)

Centro Cultural Banco Brasil -

MNCARS: Museu Reina Sofia -

São Paulo

Madrid

Plano. Localização: Centro Histórico

Plano. Localização: zona de Atocha,

de São Paulo.

próxima ao centro de Madrid.

Edifício

histórico,

CONDEPHAAT

tombado e

pelo

Conpresp.

Elementos externos preservados.

Museu Nacional – Ministério da Cultura espanhola (1988)

Concentrado em bloco único, a

A proposta de Jean Nouvel integrou

edificação possui cinco andares,

três novos edifícios que se erguem

subsolo, mezanino e cobertura, com

em torno de um pátio, cada um

um

que

deles com um programa dominante.

andares,

O primeiro, ao sul, é o da biblioteca.

iluminado por uma claraboia em

O segundo, a oeste, é o dos

vitral executada pela Casa Conrado

encontros:

(fundada em 1988 pelo alemão

protocolo, bar e restaurante. O

Conrado Sorgenicht) e uma torre

terceiro,

grande

atravessa

vão

todos

central os

auditório,

ao

norte,

sala

é

o

de

das


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 58

baixa,

integrada

ao

corpo

da

exposições temporárias, o único

edificação, que evidencia a entrada

que está comunicado diretamente

principal.

com o museu-matriz. Os novos espaços permitiram cobrir ainda outras necessidades: armazéns de obras de arte, livraria, escritórios, salas

de

reuniões

e

sala

de

protocolo. Programa bastante enxuto e bem distribuído; se desenvolve ao redor do pátio de modo prático, com fluxos

e

acessos

legíveis.

A

disposição linear dos ambientes

Foram alojadas novas salas de

facilita a compreensão do programa

exposição, uma biblioteca e centro

Programa de

que consiste em: cinema, sala de

de

necessidades

vídeo e sala para workshops no

administrativos, uma livraria, café,

primeiro

um auditório e armazéns para a

andar;

exposições

espaço

e

para

cybercafé

no

documentação,

escritórios

conservação das obras.

segundo; salas de exposição e teatro

com

(capacidade

pé :135

direito

duplo

pessoas)

no

terceiro andar. Os

edifícios

que

abrigam

a

biblioteca e as salas de exposições Estrutura em concreto armado, com colunas com capitéis trabalhados, do térreo até o primeiro andar. A partir do segundo piso, os capitéis Estrutura e materiais

são retos e as lajes simples. Uma estrutura

de

perfis

metálicos

revestida com gesso foi executada para apoiar a claraboia, que era menor do que o vazio central do quarto andar. A alvenaria é de tijolos.

temporárias foram construídos com aço

laminado,

enquanto

o

do

auditório tem sistema de concreto protendido. Predominância do vidro e

de

materiais

reflexivos.

Na

construção predomina o uso de materiais e técnicas inovadoras. É o caso da composição de fibra de vidro e poliéster que recobre o edifício do auditório por dentro e por fora. Pode-se citar ainda o uso de perfis de proteção feitos de alumínio extrudado,

o

revestimento

Alucore e zinco para a cobertura.

de


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 59

O museu tem duas entradas, uma na fachada principal do edifício A

entrada

principal,

com

três

aberturas, todas com 2 degraus, não são acessíveis a pessoas em Acesso à Edificação (todos utilizam a mesma entrada,de forma segura)

cadeiras de rodas. Além disso, não possuem piso de tátil de alerta, nem faixas

contrastantes,

corrimãos,

o

circulação

de

deficiência reduzida,

que

nem

dificulta

pessoas

visual, além

de

a com

mobilidade idosos.

As

pessoas usuárias de cadeira de Com foco na Acessibilidade do meio físico

rodas utilizam a entrada lateral, anexa à cafeteria.

Sabatini e outra no edifício Nouvel. O acesso para cadeiras de rodas é feito pela rua Santa Isabel pela Plaza de Sancez Bustillo. O acesso ao edifício Nouvel (ao lado da Ronda de Atocha) não tem qualquer barreira e é acessível a visitantes em cadeiras de rodas através de rampas. Cada edifício possui o seu próprio

acesso.

acessos

independentes tanto da biblioteca como

do

auditório

e

do

restaurante/cafeteria para o exterior do Museu. O visitante também transita livremente entre o edifício Sabatini e os novos espaços. A circulação entre os dois edifícios é feita por meio de rampas com

As

Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)

circulações

são

inclinação adequada de 8,5%; com

amplas, livre de barreiras, porém

corrimão duplo em ambos os lados.

não

Todos os desníveis existentes nas

piso

principais

tátil

em

nenhum

ambiente. Alguns desníveis são

salas

vencidos

rampas, exceto a sala E1 (Área 1),

por

possibilitando

meio a

de

rampas

circulação

de

de

exposições

possuem

localizada no 1º andar do edifício

cadeiras de rodas, mas não são

Sabatini,

que

sinalizadas com piso tátil de alerta e

demanda auxilio de funcionários

nem possuem corrimãos.

para

PCR

e

tem

degraus

PMR.

Não

e

sinalização com piso tátil de alerta em frente aos elevadores. Realizada

Circulação vertical

por

meio

de

05

Três torres de elevadores em aço e

elevadores, sendo 04 elevadores

vidro, sendo duas delas fornecem a

novos (um deles é de uso exclusivo

circulação vertical para as duas

de funcionários) e 01 elevador de

entradas

1920 que foi restaurado (antigo

Sabatini, acessadas por rampas e

elevador do cofre), para acesso ao

há também elevadores no edifício

subsolo por pessoas usuárias de

Nouvel. Os auditórios e a biblioteca,

cadeira de rodas. Há ainda duas

situados no edifício Nouvel, têm

escadas, uma para o público e outra

seus

principais

próprios

do

edifício

elevadores.

Os


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 60

que funciona como circulação de

elevadores possuem Braille e relevo

emergência do edifício.

nas

botoeiras,

porém,

não

anunciam o andar por meio de aviso sonoro. A

cobertura

é

precisão

perfurada

com

possibilitando

canalização

da

luz

a

natural

na

biblioteca, nas áreas de exposições e no pátio. A biblioteca mescla a luz e Vitral Iluminação

para

iluminação

a

sombra.

Luzes

centrais

natural

propagadas por cúpulas suspensas

localizado no vão central, confere

feitas de gesso e cristal lavrado.

boa visibilidade.

Enormes panos de vidro aparecem riscados

por

cortinas

de

aço

perfurado, que criam uma qualidade de

iluminação

propícia

para

o

estudo. Os terraços são protegidos por enormes vidraças e aberturas de iluminação zenital. As pessoas em cadeira de rodas conseguem

Com base nos princípios do Desenho Universal

espaços, Princípio 1 Uso equitativo dos espaços (uso de todas as áreas e ambientes por todos)

De modo geral, as adaptações realizadas

na

proporcionaram

edificação

meios

para

a

utilização dos espaços por todos os tipos

de

usuários,

de

maneira

idêntica ou equivalente.

visitar de

todos

forma

os

equitativa,

exceto a sala E1 onde necessitam auxilio para vencer os degraus. Há três banheiros para cadeirantes, localizados: no primeiro e no quarto andar do Edifício Sabatini e o último no

edifício

colocou

à

Nouvel.

O

disposição

museu para

os

visitantes que solicitarem bengalas e

cadeiras

de

rodas.

Não

sinalização tátil no piso. Princípio 2 Uso flexível (respeita ritmo dos usuários, corrimão, canhotos)

Os

usuários

podem

escolher

circular por elevador ou por escada e há bancos para descanso dos usuários que apresentem ritmo mais lento para percorrer o espaço.

Os usuários podem optar entre circular por rampa ou elevador. A rampa não possui patamares, o que dificulta o percurso por usuários que tenham mobilidade reduzida, já que a extensão é bastante longa.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 61

Embora o percurso pelos andares

A

Princípio 3

seja fácil e legível, o que dificulta

consequente

Uso simples e

um pouco a sua leitura é o fato de

desafiadoras, principalmente para

intuitivo (fácil

não serem utilizados pictogramas

pessoas com deficiência visual, em

compreensão

nem

para

função da extensão do complexo,

com

da diversificação de percursos e da

para todos)

haver

orientação

mapas de

táteis

pessoas

deficiência visual.

leitura

dos

espaços

compreensão

e são

falta da sinalização tátil no piso. Há mapas de orientação, folhetos

Os ambientes não dispõem de

em Braille e em fonte ampliada e

Princípio 4

sinalização tátil e sonora e a visual

áudio guias para pessoas com

Comunicação e

é deficitária, pois em geral, as

deficiência visual. Há signo guias

informação

fontes utilizadas para sinalização

para

fácil e

são pequenas. Em cada pavimento,

auditiva e amplificadores de sinal

perceptível

nas áreas próximas aos elevadores

nas bilheterias e individuais para

(visual, sonora,

e à escada há mapas de orientação

facilitar a comunicação de pessoas

tátil)

visual, porém não há equivalente

que utilizam prótese auditiva ou

em Braille.

implante

pessoas

com

deficiência

coclear.

Não

sinalização tátil no piso. A falta de sinalização tátil de alerta no piso coloca em risco pessoas Princípio 5

com deficiência visual diante das

Tolerância ao

escadas. A falta de sinalização

A falta de sinalização tátil no piso

erro

indicando a existência da entrada

constitui-se sempre num risco para

(perigos e riscos

lateral que é acessível pode levar

a segurança da circulação de

no

pessoas idosas ou com mobilidade

pessoas com deficiência visual.

deslocamento)

reduzida a correrem risco ao entrar pela entrada principal que não tem corrimão para apoio. A

Princípio 6

As rampas têm inclinação superior à

Necessidade de

norma (8,33%) o que exige maior

esforço físico

esforço físico para o percurso dos

(mínimo)

usuários.

questão

que

mais

chamou

atenção foi a falta de sanitários em todos os andares, o que obriga o usuário de cadeira de rodas a percorrer um trajeto que envolve deslocamento horizontal e vertical até o banheiro acessível.

Princípio 7

pavimentos

sem

sanitário

Dimensão dos

acessível. Alguns andares não têm

espaços para

bebedouro acessível e não há

uso e interação

assentos para pessoas obesas.

No auditório há lugares reservados para cadeiras de rodas atrás da última fileira de assentos; acessado a partir do hall de entrada com um elevador

de

uso

restrito.

O


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 62

cadeirante

tem

acesso

a

uma

plataforma para uma rota acessível alternativa. Há três banheiros para cadeirantes,

localizados:

no

primeiro e no quarto andar do Edifício Sabatini e o último no

Foco na Orientação espacial

edifício Nouvel. Orientação

Os percursos pelos andares são

espacial

facilmente legíveis, principalmente

Em diferentes áreas de circulação e

(percepção do

pela presença do vão central que

na ligação entre os edifícios e áreas

espaço – Meio

delimita os corredores ao seu redor,

de acesso aos elevadores estão

Ambiente

conferindo um bom entendimento

disponíveis mapas de localização.

Construído)

da circulação pelos pavimentos. O piso da praça é antiderrapante e

Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)

Os espaços amplos e iluminados favorecem um deslocamento com segurança.

anti-reflexo, porém, na área interna existem várias áreas onde a luz é refletida no piso, o que dificulta e confunde

o

deslocamento

de

pessoas com baixa visão. O

CCBB

possui

um

programa

Abordagem

educativo voltado para o público

sensorial

com deficiência, que desenvolve

(análise geral)

atividades

que

exploram

várias

possibilidades sensoriais. O

setor

Foco sensorial

desenvolve

educativo atividades

O MNCARS desenvolveu vários programas sensoriais para que as pessoas

com

possam

deficiência

desfrutar

exposições

visual

das

permanentes

suas e

temporárias.

do

CCBB

sensoriais

voltadas ao público com deficiência Referencial tátil

visual, há inclusive um espaço no

(texturas)

segundo andar onde encontra-se uma maquete tátil do prédio do CCBB-SP e apostilas em Braille e

O MNCARS disponibiliza a visita táctil Museu a Mano, que acerca às pessoas com deficiência visual a revolução do conceito de escultura do século XX.

com fonte aumentada. Referencial visual (cores/jogo de luz/sombra, molduras no piso)

Repetições de espaços

Jogo de luz e sombra é uma

semelhantes; Não foram

presença constante nos ambientes,

identificados elementos

notadamente

diferenciadores que sirvam como

impacto da luz sobre as superfícies

referenciais, por exemplo, para

brilhantes e lisas é um convite aos

caracterizar os diferentes andares e

visitantes

a alocação de seu programa.

experimentarem uma diversidade

na

e

biblioteca.

passantes

O

a


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 63

de sensações proporcionadas pela estratégia projetual.

Referencial olfativo (composições

Não há.

Não há.

Não foram encontrados.

Não foram encontrados.

vegetais) Referenciais sinestésicos (elementos com água, sinos de vento) A monumental cobertura elevada por cima dos terraços e que não se A

contribuição

da

luminosidade

proporcionada pela claraboia no vão central que permeia a circulação de todos os pavimentos.

Uma Pontos a destacar:

iniciativa

destacada

é

vale

ser

Semana

de

Acessibilidade que o CCBB realiza anualmente através de atividades elaboradas pelo setor Educativo, onde

são

Inclusivas

realizadas

criativas

debaixo da qual se percebe o entorno

nos

reflexos

e

transparências. Afastada a menos de um metro do Edifício Sabatini,

que a

apoia no edifício é como uma asa

Ações

voltadas

público com deficiência.

ao

deixa passar os raios luminosos. O impacto da luz sobre as superfícies brilhantes e lisas consegue gerar a impressão

de

"descompor"

a

volumetria e "desfazer" a forma. O vermelho intenso brinca com a luz, resultando num efeito onde as superfícies lisas e brilhantes dão a impressão de se desfazerem com a luminosidade. Este efeito pode ser observado do café.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 64

Tabela 2: Análise dos Estudos de Caso - Intervenções Acessíveis

Intervenções Acessíveis

Terreno

Características do projeto

Centro Cultural Palacio La

Pinacoteca do Estado de São

Moneda - Chile

Paulo

Plano.

Localização:

Plano. Localização: bairro da Luz,

metropolitana de Santiago.

centro de São Paulo.

O Centro Cultural Palácio de La

Trata-se de um edifício histórico,

Moneda redefiniu o destino de uma

tombado pelo CONDEPHAAT em

área pública até então destinada a

1982 e pelo Compresp em 1991, de

estacionamentos

veículos

padrão neoclássico, construído em

oficiais. Desde suas origens, o

1900, para ser a sede do Liceu de

edifício

foi

Artes e Ofícios. É o mais antigo

concebido tanto em seu interior

museu de arte de São Paulo, e tem

como em seu exterior, como uma

caráter fortemente monumental. Em

praça

sua

do

de

Centro

pública

circulação

Com base no partido do projeto

região

Cultural

aberta

das

à

pessoas.

livre A

arquitetura

materiais

destacam-se

nobres, e

formas

estratégia do projeto se inspirou na

geométricas

regulares

e

lógica dos pátios que caracterizam

organização lógica e organizada

o Palácio do século XVIII.

dos espaços internos. Edifício de caráter monumental, constituído

por

composto

por

bloco três

único,

pavimentos:

térreo, primeiro e segundo andar. O primeiro

abriga

as

exposições

Instalado em 3 pavimentos, a partir

temporárias e áreas administrativas;

O edifício

de 6,5 metros abaixo do piso da

no

(distribuição dos

rua, pois foi construído no subsolo

exposições de longa duração do

espaços)

da praça situada em frente ao

acervo permanente e a galeria tátil

Palácio Del Gobierno.

de

segundo

andar

esculturas

peças

são

ficam

as

brasileiras,

cujas

etiquetadas

em

linguagem Braille; no térreo estão localizados: o auditório, as áreas técnicas, a cafeteria e ainda um pequeno espaço expositivo.

Programa de necessidades

No pátio central estão localizadas

O

salas expositivas a leste e oeste do

problemas relativos à complicada

centro,

espaços

distribuição

das

neutros capazes de se adaptar a

exposições

espalhadas

diferentes tipos de uso. Ao norte,

inúmeras salas e com circulação

consideradas

projeto

visava

resolver

áreas

os

de por


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 65

um pequeno pavilhão abriga o

estruturada a partir dos vazios

Centro de Documentação das Artes.

internos formados por uma rotunda

Em direção ao sul, se desenvolvem

central em formato octogonal e dois

dois níveis de programa: no nível

pátios

mais baixo, uma sala longa e

realizada solucionou questões de

estreita é outro espaço adequado

fluxo

para exposições. Entre esta sala e o

passarelas

estacionamento para 560 carros

proporcionaram uma conexão mais

dispostos em quatro níveis, estão

eficiente

localizadas as adegas e instalações

incorporou

de serviço. No nível intermediário,

transporte de pessoas e de carga,

entre o piso de acesso e área de

novos sanitários, ampliou a área

exposição está o Arquivo Nacional

para

de Cinema. Há ainda espaço para

laboratórios

oficinas, biblioteca, loja/quiosque e

depósitos.

laterais.

A

através

da

intervenção

inserção

metálicas

entre

os

que

espaços,

elevadores

o

acervo, de

de

para

biblioteca, restauro

e

lanchonete/restaurante. Concreto armado em geral, vigas e

As colunas e paredes do edifício

lajes de concreto protendido, pisos

são feitas de alvenaria de tijolos,

com

com vigas de ferro revestidas de

acabamento

em

granito,

Estrutura e

clarabóias de vidro laminado e

tijolo.

materiais

temperado. Possui pilares redondos

acabamentos de madeira e vidrou

de concreto e um painel metálico

ou metal e vidro. Foi instalada uma

vazado na área

cobertura possui estrutura metálica

de

exposição,

utilizado como elemento estético.

Com foco na Acessibilidade do meio físico

janelas

possuem

e tampo de vidro. O acesso à Pinacoteca é bastante

Acesso à Edificação

O centro cultural se encontra a 6,5m

(todos utilizam a

abaixo do nível da rua, sendo

mesma entrada,

acessados por meio de uma rampa

de forma

As

panorâmica, escadas e elevador.

favorecido pela região que conta com várias opções de transporte público. A entrada de pessoas em cadeira de rodas é feita por uma rampa que acessa o nível inferior ao

segura)

da entrada. Espaços amplos e bem iluminados. A intervenção realizada resolveu

Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)

Os

ambientes

são

amplos

e

questões

de

fluxo

através

da

totalmente nivelados, porém não

inserção de passarelas metálicas

possuem sinalização tátil no piso.

que proporcionaram uma conexão

Áreas com ilhas de "pufs" para

mais eficiente entre os espaços,

descanso.

cruzando os pátios internos em dois níveis,

rompendo

com

a

verticalidade de 22m de pé direito e


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 66

estabelecendo a horizontalidade.

Um novo elevador interligado à O visitante pode optar entre várias

passarela de um dos pátios laterais

alternativas

garante circulação mais confortável

acesso interno por meio de rampas

para os visitantes e maior facilidade

Circulação

de concreto com guarda-corpo de

para transporte das obras, que

vertical

vidro, por 01 elevador (apenas um)

antes era feito por meio de quatro

ou através de escadas. Há, ainda,

escadas

uma plataforma elevatória próximo

edifício. Atualmente, então, são dois

à entrada

elevadores e quatro escadas que

de

circulação.

nas

extremidades

do

viabilizam a circulação vertical.

Iluminação

Iluminação natural filtrada pelas

A

placas de vidro dispostas entre

exuberância

vigas da cobertura apoiada sobre

interior do edifício, enriquecendo a

estrutura

apreciação das obras de arte e da

metálica,

e

vigas

de

concreto protendido.

intervenção

proporcionou

de

luz

natural

no

própria arquitetura. Ao refletir sobre uso equitativo, uma questão que chama a atenção é o acesso ao interior do edifício que

Com base nos princípios do Desenho Universal

para o público em geral é feito Princípio 1 Uso equitativo dos espaços (uso de todas as áreas e ambientes por todos)

através da escadaria de dois lances Todos os espaços do centro cultural

laterais, enquanto para pessoas em

asseguram

de

cadeira de rodas o acesso é feito

utilização por todos os tipos de

por duas portas adjacentes à base

usuários em todos os ambientes,

lateral da escadaria e cujo acesso

mesmo que de forma não autônoma

depende

por falta da sinalização tátil no piso.

segurança para abrir a porta tipo

a

possibilidade

de

funcionários

da

corta fogo que só abre por dentro do prédio. Muitas vezes as pessoas em cadeira de rodas ficam a espera deles enquanto o restante do grupo aguarda no interior do edifício.

Princípio 2 Uso flexível (respeita ritmo dos usuários, corrimão, canhotos)

Os usuários podem acessar os espaços

através

de

rampas,

escadas ou elevador. Há bancos distribuídos nos pavimentos para descanso.

O espaço pode ser percorrido no tempo necessário e desejado por cada

usuário,

bancos

para

descanso. Há também recursos sensoriais

e

visitas guiadas.

disponibilidade

de


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 67

Princípio 3 Uso simples e intuitivo (fácil compreensão para todos)

É um espaço muito amplo e com Os espaços são muito amplos e de

circulações similares nos andares, o

difícil orientação para pessoas com

que dificulta a orientação. Possui

deficiência visual, além disso, não

piso tátil apenas no último andar de

possui sinalização tátil ou sonora.

exposição, junto a uma galeria tátil e sinalização sonora no elevador.

Princípio 4

Possui sinalização visual indicativa

Comunicação e

dos diversos ambientes, em tons

informação

contrastantes com as cores do piso

fácil e

e paredes. Há um terminal visual

perceptível (visual, sonora, tátil)

eletrônico

de consulta

sobre a

exposição no saguão de entrada, porém não dispõe de mapa tátil.

De forma geral a Pinacoteca conta com boa sinalização visual nos diversos ambientes, fazendo o uso de pictogramas e utilizando cores para a identificação das salas de exposição.

Os espaços são amplos e, pelo material

disponível,

percebemos

Princípio 5

que é possível a circulação para as

Tolerância ao

pessoas em cadeiras de rodas ou

A falta de sinalização tátil no piso

erro

com mobilidade reduzida. Porém,

oferece

(perigos e riscos

as pessoas com deficiência visual

deficiência visual diante de escadas

terão

e também no acesso às passarelas.

no deslocamento)

enorme

dificuldade

no

risco

às

pessoas

com

deslocamento devido à falta de sinalização tátil no piso, em todos os ambientes. O acesso externo é feito sobre um piso irregular de difícil circulação por cadeirantes, a entrada no prédio

Princípio 6

O que chamou a atenção foi o longo

obriga o cadeirante a esperar pela

Necessidade de

percurso da rampa sem patamares

abertura da porta e depois ele

esforço físico

para descanso. Porém, há a opção

precisa

de circulação vertical por elevador.

caminho,

(mínimo)

percorrer

um

longo

com

rampa

com

inclinação acima do permitido pela norma, demandando esforço extra para conseguir vencer o desnível.

Princípio 7 Dimensão dos espaços para uso e interação

Somente em 2010 entrou em vigor

Toda a estrutura expositiva é

no Chile a lei que estabelece uma

adequada para aproximação e

série de regulamentos que propõem

alcance visual de todos os públicos,

uma mudança de mentalidade em

além do edifício assegurar

relação às pessoas com deficiência,

acessibilidade física por meio de

postulando

rampas, elevador e banheiros

que

é

o

ambiente

construído que gera o grau de

acessíveis, mas cujas portas são


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 68

deficiência para as pessoas. Em

mais estreitas do que a norma NBR

outubro de 2015, os ministros do

9050 estabelece (nem todos os

Desenvolvimento Social, de Obras

cadeirantes conseguem acessá-lo).

Públicas (Alberto Undurraga) e o

A Pinacoteca disponibiliza, ainda,

Diretor

cadeiras de rodas por empréstimo a

Nacional

do

Serviço

Nacional de Deficiência assinaram

pessoas com mobilidade reduzida

um acordo de cooperação para

que as solicitarem.

promover

a

inclusão

e

acessibilidade para pessoas com deficiência tanto na concepção e construção

de

infraestruturas

públicas quanto para avançar de forma

colaborativa

na

implementação de políticas públicas inclusivas. Orientação espacial

Foco na Orientação espacial

(percepção do espaço – Meio Ambiente Construído)

A leitura do espaço é bastante complexa, com múltiplos espaços. A compreensão destes espaços por pessoas com deficiência visual é desafiadora.

O espaço é extremamente amplo e com longos corredores bastante similares. Sem o auxílio de pontos de referência que possam orientar.

Os três pavimentos da Pinacoteca

Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)

Os ambientes de circulação são

são revestidos com pisos regulares,

bastante

iluminados,

antiderrapantes e antirreflexo. Os corredores são bastante amplos e

porém

amplos

e

não

foram

encontradas

informações

que

pudessem

com iluminação adequada,

viabilizar conclusões seguras sobre

possibilitando um deslocamento

a caracterização do piso.

seguro, exceto pela falta da sinalização tátil. Em 2003, foi implantado um

Foco sensorial

programa de acessibilidade física e sensorial, o PEPE – Programa Abordagem

Não foram encontradas informações

Educativo para Públicos Especiais,

sensorial

que pudessem viabilizar conclusões

que trabalha com recursos

seguras.

multisensoriais. Este programa

(análise geral)

desenvolve atividades voltadas a pessoas com deficiências sensoriais, intelectuais e físicas.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 69

O setor educativo desenvolveu

Referencial tátil (texturas)

Parece não haver, embora. Não

reproduções de algumas obras do

tenham sido encontradas

acervo utilizando peças com relevo

informações que pudessem

e texturas e também reproduziu

viabilizar conclusões seguras.

peças através de maquetes montáveis e desmontáveis. A luminosidade, produzida ou

Referencial

As entradas das salas de exposição

reproduzida pelos recursos

visual

são emolduradas com revestimento

arquitetônicos projetados oferece ao

(cores/jogo de

na cor vermelho, o que facilita a

visitante a oportunidade de usufruir

luz/sombra,

percepção

molduras no

principalmente para as

piso)

e

t

identificação, pessoas

com baixa visão.

rt ” ú

r r

“ br z

tr

é

nuances de luz e sombra projetadas nas paredes.

Referencial olfativo (composições vegetais)

Não foram encontradas informações

O setor educativo trabalha também

que pudessem viabilizar conclusões

com materiais sensoriais que

seguras.

envolvem o sentido do olfato.

Referenciais

Na lateral da rampa externa, que dá

sinestésicos

acesso ao centro cultural, há uma

Não foi percebida intencionalidade

(elementos com

parede de água que também serve

arquitetônica que contemplasse

água, sinos de

o complexo sistema de refrigeração

este aspecto.

vento)

do ar interior. O espaço de exposição/convivência é

um

espaço

flexível

para

a

realização de diversas atividades, desde Pontos a destacar:

feiras

exposições

e

artesanais

até

apresentações

de

orquestras com total acessibilidade. A biblioteca possui acessibilidade incluindo o acervo cujas estantes estão em altura acessível.

Os amplos espaços da edificação secular são extremamente convidativos para a contemplação ao simples deslocamento por seus ambientes, constituindo num atrativo independe das exposições. Outro aspecto a ser destacado é a galeria tátil que é eficientemente acessível ao público com deficiência visual.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 70

Tabela 3: Análise dos Estudos de caso - Projetos de referência Estética

Projetos de Referência Estética Museu Solomon R. Guggenheim -

Museu MAXXI - Roma

Terreno

Nova York

Plano. Localização: bairro Flamingo,

Localização:

Roma.

York.

5th

Avenue,

Nova

Localizado no terreno de um antigo quartel militar, o museu é composto por

cinco

tubos

retangulares

Com base no partido do projeto

sobrepostos que se conectam à construção original do terreno, que

A volumetria se baseia na forma de

foi preservada. As paredes curvas

um

dos tubos dialogam e contrastam

piramidal

com as fachadas simétricas em

curvas

estilo neoclássico do entorno. O

sobreposição de planos a partir de

conceito principal do projeto está

formas geométricas diferentes cria

Características

diretamente ligado à finalidade do

um efeito plástico, dando a ideia de

do projeto

edifício como um centro para a

camadas flutuantes recortadas. As

exibição de artes visuais.

principais

Dois

zigurate

invertido

terraplanado) de

uma

(templo e

espiral.

formas

nas A

geométricas

elementos arquitetônicos principais

utilizadas foram o arco, o círculo, o

caracterizam o projeto: os muros de

triângulo e o quadrado, que estão

concreto que definem as galerias de

presente em todos os elementos da

exposição

construção, desde a volumetria até

e

determinam

entrelaçamento gerando

de

conexões

pontes

que

ligam

o

volumes com

os detalhes construtivos.

várias

edifícios

e

galerias; e o telhado transparente que modula a luz natural. Projetado

como

um

verdadeiro

campus multidisciplinar e multiuso das artes e da cultura, o MAXXI cria O edifício (distribuição dos espaços)

um complexo urbano para a cidade que pode ser desfrutado por todos. O MAXXI é constituído por duas instituições, denominadas MAXXI Arte

e

MAXXI

Arquitetura,

dedicadas respectivamente à arte e arquitetura do século XX e XXI.

A galeria principal possui uma forma cilíndrica em espiral, com um vazio central e iluminação natural por meio de uma claraboia em cúpula. O bloco retangular abriga as demais galerias e conecta o volume circular menor, onde está localizado o café. Em 1992, foi inaugurada uma torre anexo ao museu, projetado pela Gwathmey Architects.

Siegel

&

Associates


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 71

Além dos dois museus, o MAXXI inclui um auditório, biblioteca e biblioteca

de

mídia,

livraria

e

Programa de

cafeteria, espaços para exposições

necessidades

temporárias, espaços ao ar livre, eventos

ao

vivo

e

atividades

Além das galerias, o museu inclui um

auditório,

cafeteria,

loja

e

laboratórios.

comerciais, laboratórios e locais de estudo e lazer. O A estrutura do novo edifício é composta

de

paredes

laterais

curvas feitas em concreto autoadensável

(SCC)

aparente;

As

estruturas horizontais são, na sua maioria, compostas por vigas de aço pintadas de preto, às vezes revestidas com painéis de concreto Estrutura e

reforçado com fibra de vidro (GRC),

materiais

como no caso das vigas do teto, que é, na verdade, um aparelho complexo, constituído por estruturas com vidros duplos superiores e inferiores, providos de um sistema de proteção solar composto por grelhas

metálicas

ajustáveis;

A

estrutura do teto também acomoda o sistema de iluminação artificial.

Guggenheim

é

composto

principalmente de concreto armado. e de concreto de peso normal moldado in loco. O material das paredes radiais internas e das rampas

é

o

concreto

leve.

O

material utilizado para o exterior das paredes

espirais

concreto

curvas

projetado,

ou

foi

o

gunite.

Wright usou gunite para obter uma fachada monolítica sem emendas. Estrutura de concreto tem vãos de mais de 18m e balanços com mais de 7m. A estrutura da galeria principal se desenvolve através de uma rampa em espiral com três graus de inclinação, que faz seis voltas no vão central do edifício, de 30,5m de altura. As janelas são emolduradas

em

aço

e

as

Acesso à

Do lado externo, um calçadão de

Edificação

pedestres segue o contorno do

A entrada principal da galeria está

(todos utilizam a

edifício, restaurando uma ligação

nivelada com a rua e possui pé-

mesma

urbana que foi bloqueada por quase

direito baixo, sendo delimitado pela

um

fachada frontal.

entrada,de físico

Com foco na Acessibilidade do meio

claraboias de alumínio.

forma segura) Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)

século

pelo

antigo

quartel

militar. Os corredores formam fluxos que se

O museu parte do princípio de um

conectam

espaço

criando

um

espaço

inteiro, no

contínuo qual

todos

e

dinâmico e interativo. Os amplos

interligado,

os

espaços interiores, definidos pelas

ambientes são visualizados pelos

paredes da exposição, são cobertos

usuários que fazem o percurso de


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 72

por um telhado de vidro que ilumina

cima para baixo. Não há sinalização

as galerias com a luz natural filtrada

tátil no piso.

pelas linhas das vigas em fita no teto que ajudam a articular as várias orientações das galerias e facilitam a circulação através do museu. O acesso aos espaços é feito por meio de um elevador principal e da O Circulação vertical

acesso

às

diferentes

áreas

expositivas é feito por meio de escadas

e

passarelas

em

tom

contrastante com o espaço, além de elevadores.

rampa Slope, uma rampa espiralada com

inclinação

de

três

graus,

passando por todos os pisos do edifício e onde estão expostas as obras.

Possui

anexos

e

dois

uma

elevadores

escada,

que

permitem o acesso e circulação pelo bloco retangular. O museu recebe iluminação natural através dos feixes de luz que passam pela cobertura de vidro, pelos entremeios das vigas de concreto do teto do terceiro andar. As galerias têm um sistema de sombreamento Iluminação

externo

cuidadosamente

projetado

(as

nervuras de aço) e orientadas para o sul, alavancas externas ativas ajustáveis, como persianas internas para reduzir a radiação solar e criar condições de iluminação de 50 a 200 lux. A iluminação artificial está sob controle de um sofisticado

Uma grande claraboia com cúpula de

aço

e

vidro

fornece

uma

iluminação de fundo difusa para o espaço interno, enquanto uma faixa contínua de janelas de fita fornece uma iluminação natural específica para as obras de arte localizadas ao longo da rampa de exposição. Posteriormente, foi adicionado um sistema de iluminação artificial para garantir a iluminação adequada às obras

de

arte

em

todas

as

condições.

Princípio 1 Desenho Universal

Com base nos princípios do

sistema

Uso equitativo dos espaços

(uso de todas as áreas e ambientes por todos)

Os amplos e iluminados espaços possibilitam a utilização por todos os tipos de usuários, porém, as pessoas

com

deficiência

visual

terão muita dificuldade de circular pelos

ambientes

de

modo

autônomo, em função da falta de sinalização tátil no piso diante da

Todos

os

espaços

do

museu

asseguram a utilização por todos os tipos de usuários.


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 73

constante variação de níveis entre os espaços.

A rampa espiralada da

galeria

Princípio 2

A conexão entre diversos ambientes

principal permite que os usuários

Uso flexível

é feita por meio de escadas e

façam sua própria rota para acessar

(respeita ritmo

passarelas que demandam esforço

a exposição. O público também

dos usuários,

para

mobilidade

pode acessar os mesmos espaços

corrimão,

reduzida. Não foram visualizados

com o elevador principal e os

canhotos)

espaços de descanso.

elevadores anexos para as demais

pessoas

com

galerias. O conjunto de estrutura e vigas em fita ajuda a direcionar o trajeto dos Princípio 3 Uso simples e intuitivo (fácil compreensão para todos)

usuários, cujo percurso permanece

O percurso proposto começa no

generosamente iluminado. Por outro

elevador para acessar o nível mais

lado, a densa textura de espaços

alto da rampa, onde está localizada

interiores e exteriores entrelaçados

a claraboia. Os usuários descem a

e sobrepostos uns sobre os outro

rampa de modo fluído, enquanto

cria

observam as obras expostas.

um

espaço

extremamente

complexo para ser percorrido por pessoas com deficiência. Nas fontes pesquisadas Princípio 4 Comunicação e informação fácil e perceptível (visual, sonora, tátil)

Princípio 5 Tolerância ao erro (perigos e riscos no deslocamento)

e nas

Nas fontes pesquisadas e nas

imagens e vídeos assistidos foram

imagens e vídeos assistidos não

observadas

foram visualizadas informações ou

informações

visuais,

algumas com pictogramas, porem

comunicação perceptível, porem

as fontes não foram suficientes para

acredito que as fontes não foram

formar

uma

suficientes para tirar alguma

quanto

à

elementos

opinião eficiência e

nem

conclusiva destes se

conclusão quanto à existência destes elementos e nem se há

disponibilidade de outras linguagens

disponibilidade de outras linguagens

que assegurem a acessibilidade.

que assegurem a acessibilidade.

O piso reflexivo parece ser do tipo

Não foram encontradas referências

não antiderrapante, fator de risco

ao tipo de piso, porém, nas fotos e

para

vídeos

pessoas

com

deficiência

foi

visualizado

um

piso

visual, idosos, entre outros. A falta

reflexivo que parece ser do tipo não

da sinalização tátil no piso constitui

antiderrapante, fator de risco para

sempre um risco para as pessoas

pessoas

cegas, seja diante de desníveis no

idosos, entre outros. A falta da

com

deficiência

visual,


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 74

piso, vãos e escadas, entre outros.

sinalização tátil no piso constitui sempre um risco para as pessoas cegas.

Princípio 6 Necessidade de esforço físico (mínimo)

diferença

de

níveis

entre

diversos ambientes, os percursos

O acesso do público à galeria

são longos e, para uma pessoa em

principal é feito pela rampa Slope.

cadeira de rodas, o esforço é muito

Porém, há a opção de circulação

intenso se a cada circulação por um

vertical pelo elevador principal. Nas

piso ela necessitar ir até os pontos

outras galerias, o acesso pode ser

onde se encontram os elevadores

feito pelos elevadores anexos e

para conseguir se deslocar para o

pela escada.

nível seguinte.

Princípio 7 Dimensão dos espaços para uso e interação

Pelo que foi possível observar nas

Pelo que foi possível observar nas

diversas fontes consultadas (vídeos

diversas fontes consultadas (vídeos

e fotos), os espaços são todos

e fotos), os espaços são todos

amplos

amplos

e

parecem

livres

de

e

parecem

livres

de

barreiras, porém não consegui obter

barreiras, porém não consegui obter

informações

informações

a

respeito

das

a

respeito

das

características de outros recintos –

características de outros recintos –

banheiros, auditório – para poder

banheiros, auditório – para poder

fazer análises mais detalhadas.

fazer análises mais detalhadas

As formas fluidas e sinuosas, a

Foco na Orientação espacial

variedade e o entrelaçamento de Orientação

espaços com piso reflexivo e o uso

Do átrio central é possível visualizar

espacial

modulado da luz natural levam a um

os seis pavimentos da rampa. Os

(percepção do

quadro espacial e funcional de

espaços expositivos também são

espaço – Meio

grande complexidade, oferecendo

abertos, permitindo a visão dos

Ambiente

visões incessantes e mutáveis dos

trabalhos

Construído)

ambientes do prédio o que torna a

lugar da galeria principal.

legibilidade do espaço desafiadora para pessoas com deficiência. O piso é de epóxi cinzento e Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)

reflexivo, e com a incidência da luz sobre o piso pode confundir a e dificultar a percepção visual dos usuários, pessoas

principalmente que

rebaixamento da visão.

das

apresentam

expostos

de

qualquer


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 75

Abordagem sensorial (análise geral)

Referencial tátil (texturas)

Não foram encontradas informações que pudessem viabilizar conclusões

Não há.

seguras. Possui contrastes de cor entre a

Referencial

Foco sensorial

visual (cores/jogo de luz/sombra, molduras no piso)

circulação e os espaços; as áreas de circulação como escadas e passarelas estão destacadas na cor preto e com iluminação bilateral embutida em todo o traçado do piso das áreas de circulação, enquanto as paredes são destacadas pela cor

Possui iluminação zenital na lateral da rampa espiral acompanhando sua inclinação, de modo a mudar a percepção das obras de arte de acordo com as variações climáticas e as estações do ano.

branca e pelo concreto aparente. Referencial olfativo (composições vegetais)

Não foram encontradas informações que pudessem viabilizar conclusões

Não há.

seguras.

Referenciais sinestésicos (elementos com

Não foram encontrados.

Não foram encontrados.

água, sinos de vento) Um ponto importante do projeto é a questão da flexibilidade de uso dos espaços. A ausência de paredes convencionais

e

as

divisórias

suspensas do forro permitem que sejam feitas alterações nos espaços Pontos a destacar:

para atender as necessidades dos curadores para cada exposição. "um novo tipo de espacialidade fluida

de

múltiplos

pontos

perspectiva

e

fragmentada,

projetada

de

geometria para

encarnar a fluidez caótica da vida moderna". Zaha Hadid


A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 76

5. O PROJETO

Conceber um projeto com base nos princípios do Desenho Universal é um desafio significativo, pois, embora não possamos afirmar que o conceito seja novidade, ainda é difícil encontrar referências de projetos realizados com este embasamento. Quando buscamos referências em arquitetura e acessibilidade, o que encontramos são projetos desenvolvidos de forma tradicional, buscando apenas soluções de acessibilidade de forma a atender às exigências da norma ABNT NBR 9050/2015. Acredito que alguns motivos contribuem para esta realidade: O primeiro e mais desafiador para ser trabalhado está relacionado aos valores cultivados em nossa sociedade, que ainda tem muita resistência em lidar com as diferenças, com a deficiência e com o fato de que um dia todos nós nos tornaremos idosos ou, de alguma forma, pessoas com deficiência. A este respeito, durante a divulgação do Primeiro Relatório Mundial sobre a Deficiência, publicado pela Organização Mundial da Saúde em 2011, a Diretora geral da OMS escreveu: "A deficiência é parte da condição humana. Quase todo mundo, em algum momento da vida, terá temporária ou permanentemente uma ou mais deficiências. Devemos fazer mais para quebrar as barreiras que segregam as pessoas com deficiência. Barreiras que, em muitos casos, as forçam a viver às margens da sociedade". (CHAN, Margaret)

O segundo ponto é que muitos profissionais da área de arquitetura e projetos atuantes no mercado não tiveram em sua formação contato com os conteúdos de Desenho Universal e Acessibilidade, e a multidisciplinaridade e complexidade deste tema faz com que existam muitas dúvidas relativas à sua aplicação prática. Sobre esta questão das incertezas na prática profissional, Donald Schön afirma: Profissionais de projeto, tais como arquitetos e projetistas urbanos [...] lidam frequentemente com a incerteza, a singularidade e com o conflito. As situações fora da rotina que surgem durante a prática são, pelo menos em parte, indeterminadas e devem ser tornadas coerentes de alguma forma. (SCHÖN, 2000)


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Isso decorre do fato de que projetar é uma atividade complexa que requer compreensão de múltiplos fatores e impõe a resolução de inúmeras situações adversas que vão se instalando à medida que avançamos no processo. O terceiro ponto acredito que seja de caráter pessoal, uma escolha ao mesmo tempo pessoal e profissional de aceitar novos desafios, de se disponibilizar a assumir os riscos de enfrentar de caminhos inseguros e resultados incertos, mas que fazem parte de todo processo de construção de um novo percurso e de evolução, tanto profissional quanto pessoal. Sabemos que a mudança de todo e qualquer paradigma é um processo longo, mas responder às demandas que surgem das necessidades de uma sociedade que se abriu ao debate sobre acessibilidade e inclusão também faz parte dos desafios a serem encarados pelos arquitetos, num percurso no qual ainda há muito a aprender para atuar de forma efetiva, apesar de já serem observadas iniciativas e conscientização nesse sentido.

5.1 - Pensando no projeto e nos princípios de Desenho Universal

Projetar com base no Desenho Universal implica numa grande mudança de referencial, que vai além da prática comum de remoção das barreiras para um grupo específico de pessoas (pessoas com deficiência), evoluindo para uma forma de atender às necessidades ambientais de praticamente todos os usuários, independentemente da idade ou habilidade. Significa projetar todos os produtos, edifícios e espaços exteriores de forma que possam ser usados por todas as pessoas na maior extensão possível. Desenho universal não é um estilo de design, mas uma orientação para projetar, com base nas seguintes premissas: 

A deficiência não é uma condição especial de poucos;

É comum e afeta a maioria de nós em alguma parte de nossas vidas;

Se um projeto funciona bem para as pessoas com deficiência, ele funciona melhor para todos;

Usabilidade e estética são compatíveis entre si. Este é um objetivo ambicioso, que exige conhecimento detalhado de áreas,

soluções e consequências das escolhas feitas. Neste desafio está implícita uma


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série de exigências, às vezes controversas, para elaborar a fim de nos certificarmos de que todas as possibilidades acessíveis foram exploradas para atender as demandas de todos os usuários. É necessário prestar atenção à abrangência de especificidades dos usuários, como mobilidade, visão, audição, compreensão, etc. As soluções devem funcionar igualmente bem tanto para aqueles com habilidades médias, ditas normais, quanto para as pessoas com deficiência. Outro detalhe importante é que, além das pessoas com deficiência, as crianças devem ser incluídas entre os usuários que têm necessidades a serem consideradas. Muitas exigências funcionais adicionais são comuns às crianças, aos idosos e pessoas com deficiências funcionais reduzidas. Os princípios do desenho universal podem ser considerados como componentes de um processo projetual que irá trabalhar em prol da melhoria da qualidade da funcional para todos, desde o início do projeto até o seu resultado final. O grande desafio para os projetistas e designers é conseguir fazer a transposição da teoria para a prática, onde todas as necessidades destes grupos de usuários precisam ser identificadas, consideradas e incluídas desde a fase de planejamento e concepção do projeto. Um projeto arquitetônico baseado em Desenho Universal deve contemplar: - Usabilidade do ambiente construído por todas as pessoas, incluindo as Pessoas com Deficiência. - Promoção da segurança e bem-estar para todos. - Autonomia para todos os públicos ao fazer uso do ambiente. - Garantia de que ninguém seja excluído do uso do ambiente construído em função de barreiras físicas (Acessibilidade). Existem algumas diretrizes sobre a forma como este processo pode ser orientado e, a este respeito, foi criado um artigo intitulado Universal Design Planning and Design for All, pelo Norwegian State Council on Disability, uma agência estatal norueguesa responsável pelas políticas de acessibilidade na Noruega, no qual são descritos cinco pontos baseados no Desenho Universal que são relevantes para a arquitetura e para o processo projetual: 1) A construção deve assegurar uso equitativo e acessível para todos os usuários;


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O edifício/projeto deve contemplar todos os grupos de usuários, assegurando possibilidades igualitárias de se locomoverem facilmente, com segurança e autonomia e de utilizarem todos os espaços e ambientes previstos no edifício/projeto. Soluções especializadas para determinados grupos de usuários devem ser evitadas; as soluções normais devem ser utilizáveis por todos. O acesso principal, a entrada e o sistema de circulação interna do edifício devem ser projetados de forma a permitir que todos os grupos possam utilizar a mesma solução. 2) O design do edifício deve ser de fácil compreensão e ser utilizado por todas as pessoas; Soluções comuns que servem para todos os grupos tornam o uso mais simples. Complexidade e soluções especializadas devem ser evitadas. A entrada do acesso principal deve ser fácil de localizar e de ser percorrida até o interior do edifício, e ser utilizável por todos. Elevadores, escadas, banheiros, informações etc. devem ser facilmente localizáveis e alocados em uma posição lógica e intuitiva. O sentido do fluxo de movimento no interior do edifício/projeto deve ser natural e lógico. Alternativas e possibilidades devem ser claramente sinalizadas. A sinalização deve ser composta por símbolos simples, claros e conhecidos e também incluir sinalização tátil no piso e áudio guias. A utilização de texturas e cores diferenciadas nos diferentes ambientes é sempre benéfica e desejável. 3) O design do edifício deve exigir pouco esforço físico e ser utilizado de forma eficiente e com um mínimo de esforço; A entrada e a utilização do edifício/projeto devem ser concebidas de forma que possam ser utilizada por todos os grupos de usuários, o que implica em não escolhermos soluções que exijam mobilidade total, grande esforço e distâncias que sejam adequadas apenas para serem percorridas por pessoas a pé e com ritmo rápido. Exemplos disto incluem: uma circulação que favoreça suave percurso, rampas com declives suaves, entradas sem degraus, corrimãos ajustados tanto para pessoas em pé quanto sentadas (CDR), portas que tenham puxadores fáceis de abrir ou portas automáticas. Considerar sempre a possibilidade de adotar portas automáticas com velocidade reduzida, maçanetas com um puxador grande e simples, elevadores com portas automáticas e compartimentos de tamanho


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adequado, sinalização clara e posicionada a alturas adequadas a pessoas em pé e sentadas (CDR). 4) A edificação inteira deve ser projetada para ser usada por todas as pessoas, independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade dos usuários; Todas as partes do edifício/projeto devem ser dimensionadas de modo que possam ser utilizadas por todos os grupos. Isto inclui a entrada, os balcões de atendimento, as salas e áreas em diferentes partes e pisos do edifício, portas, corredores, elevadores, sanitários, barreiras, escritórios, cabines de telefone, etc. 5) Os materiais utilizados na edificação e na circulação de ar no seu interior não devem gerar desconforto aos usuários. Usar materiais que não agridam o meio ambiente e que podem ser usados por todos. Evitar o uso de materiais que possam causar reações alérgicas, ou seja, evitar materiais que produzam gases residuais. Evitar carpetes, materiais e elementos que acumulem poeira. Manter a edificação limpa durante toda a construção e limpar corretamente antes de ser liberada para uso. Devem ser elaborados manuais com orientações sobre possibilidades eficientes de limpeza dos ambientes da edificação. Um sistema de ventilação corretamente dimensionado e um qualificado e eficiente plano de monitoramento do funcionamento deste sistema resultam em condições saudáveis e bem estar ambiental. A adoção destes princípios ajuda as pessoas a utilizarem os ambientes em segurança, com dignidade, conforto, comodidade e confiança. Desta forma, as pessoas poderão se sentir confiantes para tomar decisões eficazes sobre a forma como irão utilizar um ambiente, de forma independente, sem experimentar esforço excessivo ou segregação. Elas terão condições de participar, de forma igualitária, das atividades que o espaço oferece. Todo bom projeto deve resultar num espaço inclusivo. Após a conclusão de um projeto, este deve ser avaliado se conseguiu resultar num ambiente inclusivo. Em outras palavras, verificar se os espaços atendem a diversidade de pessoas sem gerar algum tipo de segregação ou exclusão, de forma que os usuários possam usufruir desses espaços para uma convivência social mais saudável e inclusiva. Através da concepção e gestão do ambiente construído, a frustração e o sofrimento experimentado por muitos devido à exclusão causada por barreiras


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arquitetônicas podem ser eliminados, especialmente quando se trata de pessoas com deficiência, idosos e famílias com crianças pequenas. Todos nós somos beneficiados por um ambiente projetado em alinhamento com os princípios do Desenho Universal, que se traduz em ambientes inclusivos. Projetar para pessoas com deficiência físico-motora é uma tarefa que já se tornou mais próxima do cotidiano dos arquitetos, pela necessidade de atender aos requisitos legais, e também porque as soluções técnicas a serem adotadas dependem, de maneira simples e direta, da compreensão e aplicação dos parâmetros antropométricos descritos na NBR 9050/2015. Sobre esta questão, Dischinger e Bins Ely citam: Se já existe conhecimento teórico e prático bastante significativo em relação às soluções dos problemas de acessibilidade para pessoas com deficiências motoras, a presença de deficiências sensoriais requer ainda um maior aprofundamento nas soluções técnicas. No caso de ausência total ou parcial de visão, boas soluções exigem, além do conhecimento teórico, contato direto com os usuários com diferentes tipos de deficiência visual para compreender seus processos de percepção e orientação espacial. (DISCHINGER E BINS ELY, 2010)

5.2 - Orientabilidade no ambiente construído

A arquitetura como arte de construir tem como objetivo principal abrigar as atividades humanas, entretanto, na concepção do projeto devem ser consideradas questões que vão além da sua dimensão funcional. Estudos de projetos partindo dos fatores humanos, em sua grande maioria, têm foco nos aspectos visuais, sendo encontrados poucos trabalhos que abordam a multisensorialidade do ambiente construído, aplicadas à prática do processo de projeto. Para se deslocarem pelo espaço, as pessoas precisam conseguir se orientar, ou seja, perceber onde estão, identificar a estrutura física do espaço ao seu redor, saber onde desejam ir e como se deslocar para chegar até o seu destino. Todos nós


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buscamos referências, seja no primeiro dia de aula numa nova escola ou faculdade, num novo emprego, numa nova cidade, estamos sempre em busca de referências para conseguir planejar o nosso deslocamento. Assim é também com as pessoas que utilizam outros sentidos que não a visão. Desde pequenos aprendemos a ler o espaço em que nos encontramos, seja ele em escala macro ou micro, o que muda é qual ou quais sentidos utilizamos para realizar esta tarefa. É isto que ajuda na percepção que as pessoas têm do espaço ao seu redor, e a partir desta leitura e da relação que o indivíduo consegue ter com ele é que os espaços são classificados quanto à sua legibilidade, se são intuitivos ou complexos. A criação de mapas mentais bem definidos leva o indivíduo a se deslocar e explorar um local com maior facilidade, tendo como pontos de referência elementos que podem, ou não, ser fortemente legíveis. Legibilidade, segundo Kevin Lynch9, é um atributo característico ao observador que, segundo critérios perceptivos quanto à cor, forma ou disposição de elementos na cidade, pode evocar uma forte imagem do ambiente, tornando-o passível de ser adequadamente lembrado pelos usuários. Uma vez que o arquiteto interioriza e compreende as necessidades dos diversos tipos de usuários para realizarem as atividades propostas por um espaço, ele desenvolverá maior habilidade de imaginar, pesquisar e projetar o ambiente de forma a contribuir para melhorar a experiência dos usuários ao se deslocarem dentro deste ambiente. O arquiteto pode aprimorar sua forma de projetar a partir do conhecimento de elementos que contribuem para facilitar a leitura e percepção do espaço construído, embutindo informações e referências multissensoriais neste ambiente e, desta forma, influenciar as experiências e sensações que este ambiente pode proporcionar aos usuários. Estas informações e referenciais podem ser inseridos através da programação e aplicação de cores, texturas, luz, forma, temperatura, cheiros, entre outros elementos que possam ser percebidos, sentidos, e interpretados de maneiras distintas, dependendo, da cultura, experiências prévias, estado de espírito, entre outras condições, de quem vivencia o espaço.

9

Kevin Lynch (1918-1984): urbanista e escritor, graduado em planejamento urbano pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT)em 1947.


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Um conceito que contribui significativamente para conseguirmos trabalhar este objetivo relacionado à melhoria da percepção e legibilidade do espaço construído é o wayfinding, também conhecido como orientabilidade no percurso. O Wayfinding consiste num conjunto de pistas constituídas por elementos visuais, auditivos, táteis, olfativos e sinestésicos, que facilitam a compreensão e leitura dos ambientes construídos, facilitando às pessoas a tomada de decisões para se movimentarem dentro de um espaço de maneira orientada e segura.

As quatro etapas do Wayfinding 

Orientação: refere-se à consciência de posicionamento do indivíduo frente a elementos que estão próximos a ele e ao destino. Esta etapa pode ser facilitada caso seja possível dividir o espaço em tamanhos menores e de fácil identificação.

Escolha de rota: refere-se à escolha de um caminho que leva o indivíduo até o destino desejado. Esta etapa pode ser facilitada caso não exista um grande número de caminhos alternativos, onde os caminhos curtos são preferíveis em relação aos caminhos longos.

Observação da rota: refere-se à observação e análise do caminho, ou seja, ao longo do percurso o indivíduo lê as pistas e consegue perceber se está ou não caminhando no sentido desejado. Caso o caminho seja claro (com princípio, meio e fim), a pessoa sempre saberá onde está.

Reconhecimento do destino: é o reconhecimento do destino quando chegamos a ele. Esta etapa pode ser facilitada se o indivíduo perceber que o local de destino é o ponto final de uma rota, e caso o local tenha alguma identificação de que é o ponto de destino.

Os Princípios do WAYFINDING

Segundo um estudo do Instituto MIT, para se ter um sistema de wayfinding eficaz é necessário seguir alguns princípios, detalhadas abaixo: 

Criação de uma identidade em cada local, diferente de todos os outros: é necessário dar a cada espaço navegável uma identidade única onde o indivíduo


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possa associar os elementos mais próximos com o macroespaço. E quando se fala em identidade significa aquilo que faz um espaço diferenciável de outro. 

Use pontos de referência para fornecer pistas de orientação e tornar os locais memorizáveis: esses pontos de referência podem ter dois propósitos distintos. O primeiro é que este ponto seja legível para que o indivíduo consiga perceber onde está. E o segundo é conseguir que esses pontos se tornem memorizáveis, facilitando o seu reconhecimento por todos os indivíduos.

Criação de caminhos bem estruturados: quando se fala em caminhos bem estruturados, quer-se dizer caminhos que sejam contínuos e possuam um começo, meio e fim, em cada sentido pelo qual seja visto. Além disso, devem mostrar um progresso ao indivíduo.

Criar regiões de diferentes características visuais: dentro do macroespaço, é preciso dividi-lo em regiões com uma identidade distinta das demais, onde cada uma terá um conjunto de atributos visuais característicos. As regiões não precisam ser delimitadas com elementos físicos divisórios, mas que seja consensual a percepção de que uma determinada área pertence a uma região, e não à outra.

Não fornecer ao usuário muitas opções na navegação: este princípio indica que o sistema de wayfinding deve ter um caminho principal para que os indivíduos possam seguir.

Utilize pontos de vista de pesquisa: por exemplo, um mapa é um valioso auxilio à navegação, por colocar todo o espaço dentro de ponto de vista do indivíduo. Com isso, ele pode saber o que está próximo a ele (vizinhança), quais os destinos disponíveis, quais rotas ele poderá utilizar, o tamanho do espaço, a distância até o destino.

Fornecer sinais em pontos de decisão para auxiliar a decisão: estes pontos de ã

ã

í

r

rá t

r

ã (

t

na rota ou mudará de direção?). E este sinal deve conter informações adicionais para auxiliar o indivíduo na tomada da decisão. Para a orientação espacial das pessoas com deficiência visual, alguns referenciais têm maior relevância nos ambientes, geralmente elementos fixos e verticais. Segundo Bentzen & Marlow (2000), o meio-fio, por exemplo, é considerado uma referência confiável pelas pessoas com deficiência visual, pois permite que elas


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consigam distinguir o limite entre a calçada e a rua. Outro elemento vertical e fixo que também pode ser considerado um referencial válido é uma cerca viva. Na imagem abaixo, alguns referencias:

Figura 26: Circulação coberta em blocos da ACIC - Florianópolis - SC

Abaixo, exemplos de informação que facilita a localização do destino dos diversos usuários, apresenta uma borda táctil que é facilmente perceptível pelos usuários deficientes visuais.

Figura 27: Placas (Fonte: wandco.com/2007/04/children-friendly-acessible-hospital-)


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Indicadores direcionais que contrastam com a superfície do piso da calçada para um diretório prédio, e em seguida, um para a entrada com as portas automáticas. A localização e padrão dos indicadores direcionais são uniformemente aplicadas para fornecer informações de orientação. As portas são de uma cor que contrasta com os seus arredores, e as portas de vidro de cor contrastantes têm bordas ao redor. Para evitar que as pessoas, pessoas com deficiência visual particularmente, de caminhar para os painéis de vidro, as portas de vidro e painéis laterais têm gravado adesivos / marcadores ao nível dos olhos para fornecer um ponto de referência indicando a presença de um painel de vidro.

Figura 28: Seattle Children Hospital (Fonte: www.studio-sc.com/seattle-childrens-hospital.php)

Figura 29: CHRISTUS Spohn - Hospital Corpus Christi (Fonte: www.sinalizar.files.wordpress.com)


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5.3 - O projeto e os critérios da norma NBR 9050/2015

A Norma Brasileira de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos - NBR 9050/2015,- é o documento que estabelece os critérios e parâmetros técnicos que deverão ser observados no projeto de edificações para que possam resultar num objeto final que atenda às condições de acessibilidade de modo a proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do ambiente, edificações, mobiliário e demais elementos à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção. Esta Norma define os termos acessibilidade, em seu item 3.1.1 e acessível no item 3.1.2, ambos na página 2, da seguinte forma: Acessibilidade: Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Acessível: Espaços,

mobiliários,

equipamentos

urbanos,

edificações,

transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa. (ABNT NBR 9050/2015)

Para que fossem estabelecidos estes critérios e parâmetros técnicos, foram consideradas diversas condições de mobilidade e de percepção do ambiente, com ou sem a ajuda de aparelhos específicos, como próteses, aparelhos de apoio, cadeiras de rodas, bengalas de rastreamento, tecnologias assistivas de audição, órteses, próteses ou qualquer outro tipo de equipamentos necessário ao atendimento das necessidades individuais específicas.


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Nela encontram-se, também, os parâmetros antropométricos que deverão ser utilizados como referencial para a concepção e dimensionamento dos diversos espaços a serem projetados.

Figura 30: Módulo de referência para projetos (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará)

O Módulo de Referência considera uma pessoa utilizando a cadeira de rodas; isto pressupõe que, para a utilização da cadeira, exigi-se espaço maior que as medidas da mesma. Assim, em um projeto de arquitetura, deve-se considerar como MR a projeção no piso da área de 0,80 x 1,20 m ocupada por uma pessoa em cadeira de rodas.

Figura 31: Módulo de referência pessoa em cadeira de rodas (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará)

Para que uma edificação possa ser concebida dentro dos parâmetros da acessibilidade, um conceito extremamente importante que deve ser trabalhado é o de Rota Acessível, cuja definição encontra-se no item 3.2.1, na página 5: Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A


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rota

acessível

pode

incorporar

estacionamentos,

calçadas

rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros. (ABNT NBR 9050/2015)

De forma resumida: 

Trajeto contínuo que conecta ambientes (origem e destino);

Desobstruído, livre de obstáculos e sinalizado;

Percurso de forma autônoma e segura por todas as pessoas;

Atender as métricas de acessibilidade da NBR 9050/2015;

O caminho mais curto entre dois pontos.

Rota acessível externa: estacionamentos, calçadas, faixas de travessias de pedestres (elevadas ou não), rampas, escadas, passarelas e outros;

Rota acessível interna: corredores, pisos, rampas, escadas, elevadores

Alguns aspectos importantes que merecem ser destacados e exemplificados são: 

Cuidar para que não existam saliências que possam ser perigosas para pessoas com deficiência visual ao longo do percurso da Rota Acessível Interna da edificação.

Avaliar e de preferência evitar a utilização de pavimentos articulados ou blocos de concreto aerados em Rota Acessível Externa, pois podem causar risco de tropeço. A "Rota Acessível" tem sido considerada como fator preponderante para a

classificação de espaços inclusivos.

Figura 32: Rota acessível (Fonte: www.eduardoronchetti.com.br/acessibilidade)


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Na fase preliminar da concepção de um projeto com base no Desenho Universal, devemos ter especial atenção às seguintes áreas: 

Área de embarque/desembarque (ponto de drop-off)

Acessos externos, calçada, circulação

Entrada – acesso (nível, piso tátil)

Recepção / sinalização / informação

Circulação horizontal: corredores, rotas

Circulação vertical: elevador e escada, rampas

Portas internas (larguras das folhas iguais ou diferentes, maçanetas)

Função desejada

Banheiros

Rotas acessíveis

Saída

Figura 33: Padrão de Acessibilidade nos diversos espaços (Fonte: CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade)


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5.4 - Terreno

Com o objetivo de identificar áreas, preferencialmente vazios urbanos, para a implantação do meu projeto, realizei derivas no bairro da Aclimação, na região delimitada pelas estações Ana Rosa e Paraíso do metrô (linhas 1-Azul e 2-Verde). Defini previamente uma macro área de estudo levando em consideração alguns critérios como, por exemplo, proximidade à estações de metrô e pontos de ônibus cuja região tivesse boas condições de acessibilidade, de modo a facilitar a circulação das pessoas até o edifício a ser proposto e cujo local fosse o mais equidistante possível das várias regiões da cidade. Partindo deste princípio, delimitei um perímetro a percorrer com as estações Ana Rosa e Paraíso do metrô como pontos limítrofes pois são estações que fazem conexão com linhas que acessam várias regiões diferentes da cidade.

Figura 34: Macro área de estudo (Fonte: Google Maps)

5.4.1 - Levantamento Físico

Fiz um planejamento prévio à visita onde preparei duas bases a partir de um arquivo base extraído do site do Geosampa que utilizei em campo para mapeamento da região quanto ao uso e ocupação do solo e fluxos urbanos. Os dados levantados durante a visita estão nos mapas abaixo:


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Figura 35: Levantamento - Mapa de Fluxos (Fonte: acervo da autora)

A principal via dessa macro área escolhida é a Rua Vergueiro, com intenso fluxo de veículos e pessoas, principalmente devido ao acesso ao metrô. A partir da estação Paraíso, a Vergueiro segue paralelamente à Avenida 23 de Maio (corredor norte-sul da cidade), mas também permite acesso à Avenida Bernardino de Campos. Foram identificadas 3 áreas de vazios urbanos dentro das características desejadas para abrigar o meu projeto. Dos 3 terrenos, escolhi o terreno localizado entre as Rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós e Rua Artur Sabiá/ Av. Armando Ferrentini. O terreno escolhido possui 1989,0468 m² e 10m de desnível. Está localizado em uma região predominantemente residencial.


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Figura 36: Levantamento - Mapa de Uso do Solo (Fonte: acervo da autora)

O terreno escolhido está localizado próximo a um ponto de ônibus e mais próximo da estação Ana Rosa do metrô. Em frente ao terreno, existe um ponto de táxi. O ponto de ônibus está situado na Rua Dr Nicolau de Sousa Queirós, onde circulam duas linhas: 

805L-10 - Aclimação (circular)

857R-10 - Terminal Campo Limpo

Figura 30: Ponto de Táxi em frente ao terreno escolhido (Fonte: Google Maps)


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Figura 37: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)

Figura 38: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)

5.4.2 - Zoneamento

O terreno escolhido está localizado no distrito de Vila Mariana, numa área classificada como ZM-3a09 - Chácara do Castelo (zona mista de alta densidade) conforme o mapa de uso e ocupação da região (subprefeitura de Vila Mariana) e conforme especificação do Quadro 04A do livro XII - anexo da Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004, que estabelece normas complementares ao Plano Diretor Estratégico, institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dispõe sobre o Parcelamento, disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo.


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O terreno selecionado está enquadrado no item III do artigo cento e oito da referida lei, conforme texto abaixo: Art. 108. Para fins de uso e ocupação do solo, a Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, fica subdividida nas seguintes zonas de uso: (...) III. zonas mistas ZM: porções do território da Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, destinadas à implantação de usos residenciais e não residenciais, inclusive no mesmo lote ou edificação, segundo critérios gerais de compatibilidade de incômodo e qualidade ambiental, que têm como referência o uso residencial, classificadas como: (...) c) ZM 3a: zona mista de densidades demográfica e construtiva altas, com coeficiente de aproveitamento mínimo igual a 0,20, básico igual a 1,0 e máximo variando de 1,0 até o limite de 2,5. (LEI Nº 13.885/2004)

Segundo o artigo cento e quarenta e nove desta mesma lei: Art. 149. Nas zonas mistas, será permitida a instalação de usos não residenciais toleráveis - nR2 nas vias locais, desde que sejam atendidas as seguintes disposições: I - não houver, num raio de 500,00m (quinhentos metros), traçado a partir do ponto médio da extensão do alinhamento do imóvel, outra zona ou outra via da categoria em que o uso pretendido seja permitido; II - sejam observados os parâmetros de incomodidade e as condições de instalação estabelecidos no Quadro n.º 02/e para as categorias de via coletoras; Parágrafo único. Na situação prevista no "caput" deste artigo não se aplicam as disposições do Quadro n.º 04 anexo.


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Tabela 4: Quadro nº 04 anexo da Lei nº 13.885/2004

MACROZONA DE ESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO URBANA COEFICIENTE DE

CARACTERÍSTICAS DE DIMENSIONAMENTO

APROVEITAMENTO

E OCUPAÇÃO DOS LOTES

CARACTERÍSTICAS ZONA DE DA ZONA DE USO

USO

TAXA DE

TAXA DE MÍNIMO BÁSICO MÁXIMO OCUPAÇÃO

PERMEABILI

MÁXIMA

DADE MÍNIMA

FUNDOS E LATERAIS GABARITO

LOTE FRENTE MÍNIMO MÍNIMA (M²)

(m)

0,20

1,00

2,00

0,5*

0,15

DE ALTURA

ALTURA DA ALTURA DA FRENTE EDIFICAÇÃO EDIFICAÇÃO MENOR OU SUPERIOR A

MÁXIMO

IGUAL A 6 m

(m)

ZM-3a09

ZM - alta densidade Chácara do

RECUOS MINIMOS (m)

125 m²

5m

Castelo

Sem limite

5m

Não exigido

6m

3m

(Fonte: Tabela extraída e editada a partir da lei nº13.885/2004)

*Verificado artigo 192 da Parte III da Lei nº 13.885/2004, referente à taxa de ocupação na ZM para edificações de até 12 metros de altura: Art. 192: Nas zonas mistas - ZM, a taxa de ocupação poderá chegar a 0,70 quando o gabarito de altura da edificação não exceder 12,00 m (doze metros).

5.5 - Cálculos para a área de projeto

A Taxa de Ocupação é a relação percentual entre a projeção da edificação e a área do terreno. Ou seja, ela representa a porcentagem do terreno sobre o qual há edificação. No caso, a taxa de ocupação da região ZM-3a09, região onde está localizado o terreno escolhido, é de: TO = 0,5 (50% - de acordo com a tabela do Quadro n.º 04) TO = 0,7 (70% - limite máximo para edificações com gabarito até 12m) O Coeficiente de Aproveitamento é um número que, multiplicado pela área do lote, indica a quantidade máxima de metros quadrados que podem ser construídos em um lote, somando-se as áreas de todos os pavimentos. CA = ?

x

1989,0468

397,80936 ≤ m² a ser construído ≤ 3.978,0936


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Resumo dos dados a serem considerados no projeto: Parâmetros ref. a classificação do terreno escolhido: Zona de uso

ZM-3a09

Características

ZM de alta densidade

Tipo de instalação permitida

Usos residenciais e não residenciais toleráveis

Coeficiente de aproveitamento

0,20 < CA < 2,00

Taxa de ocupação máxima

50 %

Taxa de permeabilidade mínima

15 %

Gabarito de altura máximo

Sem limite

Recuos mínimos

Frontal 5m e lateral 3m

Tabela 5: Parâmetros referentes à classificação do terreno escolhido

Figura 39: Mapa de dados do terreno (Fonte: acervo da autora)


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A partir do levantamento realizado, podemos concluir que se trata de um terreno bastante interessante do ponto de vista de sua localização e acessos, tendo em vista que pode ser acessado por duas ruas, é bem servido por transportes públicos, pois há proximidade com as linhas azul e verde do metrô e é servido por duas linhas de ônibus. Do ponto de vista físico, é um terreno que se caracteriza por uma complexidade em função do desnível da encosta que apresenta declividade em duas de suas faces, o que irá demandar um equacionamento bastante cuidadoso, envolvendo execução de cortes e/ou aterros, dependendo da solução a ser adotada.

5.6 - Programa de Necessidades

Figura 40: Setorização do programa (Fonte: acervo da autora)


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Tabela 6: Quadro de áreas do programa de necessidades PROGRAMA SETOR

SETOR 1 LOBBY/EXPO

SETOR 2 ADM/TÉCNICO

PAVIMENTO

AMBIENTES

ESPECIFICAÇÃO

QUANT. ÁREA

Atendimento/Balcão

1

16

Saguão exposição

1

225

Loja

1

25

Secretaria

1

37

Sala de Reunião

1

32

Arquivo

1

32

PISO TÉRREO

Área Expositiva

(+787)

PISO TÉRREO

ADMINISTRAÇÃO

(+787)

Diretoria

2

25

Sala Administração

1

50

Copa

1

18

CIRCULAÇÃO

-

105,58

4

40

Salas para Salas Multiuso

atividades/ oficinas

RECURSOS

ÁREA

ACESSIBILIDADE

TOTAL

Piso Tátil (alerta/direcional) Sinalização

266 m²

(visual/tátil) Balcão rebaixado

Piso Tátil (alerta/direcional) Sinalização (visual/tátil) Equipamentos

299,58 m²

rebaixados

Piso Tátil

artísticas

(alerta/direcional) Sinalização (visual/tátil) Equipamentos

SETOR 3 EDUCATIVO

PISO (+784)

Espaço

Espaço de reuniões

1

41,5

Educadores

DML (depósito limpeza) CIRCULAÇÃO Auditório 105 lugares SETOR AUDITÓRIO

PISO (+778)

Auditório

Espaço para cadeira

240,40 m²

de rodas Copa

Serviços

rebaixados

Sala de controle luz/som

1

18

1

30

-

110,9

1

189

1

11

Sinalização (visual/tátil) Acentos

200 m²

especiais/reservados Projeção/cinema

Cozinha

1

18

SETOR 5 LAZER/

Sinalização (visual/tátil) Circulação x

PISO (+778)

Lanchonete

CONVIVÊNCIA

disposição das Área Clientes

1

117

135 m²

mesas Balcão rebaixado

SETOR 4 BIBLIOTECA

Espaço de Leitura PISO (+790)

1

120

Biblioteca Acervo

1

117

Equipamentos rebaixados

283,25

Sinalização

(visual/tátil)


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TODOS OS

TODOS OS

SETORES

PISOS

BANHEIROS

Pesquisa

1

18

CIRCULAÇÃO

-

28,25

Banheiro Feminino

1/piso

15

Banheiro Masculino

1/piso

15

Banheiro Acessível

2/piso

3,65

Piso Tátil (alerta/direcional)

Boxe e lavatório (NBR 9050) Piso Tátil (alerta/direcional)

149,20 m²

Sinalização (visual/tátil)

5.7 - Primeiros Esboços

Para este terreno, o maior desafio de projeto está relacionado à questão de circulação, para vencer os 9m de desnível. Inicialmente, ao fazer a leitura topográfica, percebi que para vencer o desnível eu precisaria implantar um equipamento que, independente de ser rampa ou escada, ocuparia uma porção significativa da área central do terreno e considerei como uma situação que limitaria o desenvolvimento do meu projeto. Considerando que o terreno possui acesso por duas ruas, em diferentes níveis topográficos, a possibilidade de criar um fluxo de circulação de pessoas na parte central do terreno me pareceu mais interessante. Com a circulação central, comecei a delinear possíveis volumetrias do edifício, o que resultou no estudo de volumetria I e no estudo de volumetria II.

5.7.1 - Estudo de volumetria I

Circulação: elevador funicular para acesso interno e externo, escada para acesso externo apenas que pode funcionar como uma espécie de arquibancada para as atividades que acontecerem no piso mais baixo, e elevador vertical para acesso interno apenas.


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Figura 41: Estudo de volumetria I em planta (Fonte: acervo da autora)

Figura 42: Estudo de volumetria I em vista (Fonte: acervo da autora)

5.7.2 - Estudo de volumetria II

Circulação: rampa para acesso interno e externo e elevadores de acesso interno.


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Figura 43: Estudo de volumetria II em planta (Fonte: acervo da autora)

Figura 44: Estudo de volumetria II em vista (Fonte: acervo da autora)

Desde a leitura topográfica do terreno, percebi que a parte "baixa" (+778,0) do meu terreno, próxima à Rua Artur Sabiá, é uma área privilegiada em vários sentidos; é uma área que está sempre iluminada e está praticamente nivelada. A partir disso, estabeleci, como uma das metas de projeto, manter aquela área aberta onde pudesse ser utilizada como a principal área de convivência.


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5.8 - Partido do projeto

Ao iniciar um projeto o arquiteto se depara sempre com um terreno, se depara com um público-alvo que tem as suas necessidades específicas, se depara com um código de obras e principalmente, se depara com a elaboração de suas ideias, e aí existe o receio de as ideias fluírem rumo a uma contradição entre as necessidades e as possibilidades técnicas e com essa contradição não chegar a um ritmo, a uma expressão e a uma clareza, resultando numa proposta que não qualifique o seu projeto. É aí que o arquiteto precisa trabalhar com a maior ferramenta do seu ofício que se chama: PARTIDO ARQUITETÔNICO. É com esta ferramenta que ele irá trabalhar em busca de caminhos para conseguir êxito no seu projeto. Segundo Lucio Costa10: “...enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais não é ainda arquitetura; mas quando - popular ou erudita - aquele que a ideou para e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilar ou de relação entre altura e largura de um vão e se detém na procura obstinada da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei e se demora atento ao jogo de materiais ao seu valor expressivo - quando tudo isso vai a pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas também àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinados sentido toda essa massa confusa e contraditória de detalhes, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza - o que confere à obra o seu caráter de permanência. Isto sim é arquitetura". (COSTA, Lucio)

Para o desenvolvimento deste projeto, especifiquei os seguintes parâmetros do partido arquitetônico: 

TERRENO – acesso fluido por duas ruas; desnível bilateral de seis e nove metros; área de encontro no centro do terreno;

10

Lucio Costa (1902-1998): arquiteto e urbanista brasileiro, autor do projeto do Plano Piloto da cidade de Brasília


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FINALIDADE – espaço de convivência para pessoas com e sem deficiência; equipamento cultural;

IMPLANTAÇÃO – iluminação natural; desnível;

PROGRAMA – setores: exposição; administração; biblioteca; educativo; auditório; lanchonete; lazer e convivência;

CONCEITOS – Desenho Universal; arquitetura dos sentidos;

LEGISLAÇÃO – NBR 9050/2015; Lei Nacional de Acessibilidade

ELEMENTOS CONSTRUTIVOS – estrutura metálica; fechamento em vidro; laje nervurada;

FORMA e VOLUME – leveza; transparência; acolhimento; fluxo central; cheios e vazios;

FLEXIBILIDADE – salas reversíveis; utilização do espaço de convivência para eventos e apresentações;

VIABILIDADE – sustentabilidade: sistema de captação de águas pluviais e telhado verde.


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5.9 - PROPOSTA

O primeiro ponto do projeto a ser desenvolvido seria o tratamento das curvas de nível. Como o terreno possui declividade em duas de suas faces (uma delas com 6m e a outra com 9m), seria necessário definir uma contenção para que pudesse ter um melhor aproveitamento da área de projeto. Para isso, escolhi a contenção em solo grampeado, pois permite o mínimo de interferência das contenções da edificação.

Figura 45: Representação de contenção com solo grampeado (Fonte: www.solotrat.com.br)

O solo grampeado é feito com estacas de aço cravadas no solo. Inicialmente é feito um furo com sondas perfuratrizes no perfil do terreno para a inserção de grampos de aço. Após os grampos serem posicionados no talude, recebem a injeção de uma nata de cimento, ficando totalmente recobertos. Feito isso, é colocada uma malha de tela soldada sobre o talude e feito o jateamento de concreto, que cobrirá toda essa malha. Ao final, é feito o revestimento, geralmente utilizando elementos de concreto pré-fabricados. Neste projeto, a opção escolhida foi pelo bloco pré-fabricado tipo TERRAE. Definida a contenção, parti para a definição da malha estrutural e da organização do programa de necessidades. Uma intenção de projeto foi manter uma relação de contraste com o entorno, levando em consideração que a região do terreno é uma região predominantemente residencial e com prédios altos.


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Como a frente do terreno está localizada na Rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós, que é mais movimentada, defini o piso da cota 787 como o piso térreo do meu edifício, com o setor administrativo e expositivo no andar.

Figura 46: Térreo (Fonte: acervo da autora)

Abaixo do piso térreo, estão os pisos Educativo e Auditório, onde ocorrem as principais atividades do Centro de Arte e Cultura.

Figura 47: Piso Educativo (Fonte: acervo da autora)


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No piso Auditório, acessado pela Rua Artur Sabiá, foi prevista uma área de convivência para a realização de atividades e eventos, além de um jardim sensorial.

Figura 48: Piso Auditório (Fonte: acervo da autora)

A circulação é feita por dois elevadores panorâmicos e uma escada metálica com guarda-corpo de vidro, localizados na região central do terreno. O piso tátil (em azul) sinaliza a rota acessível do projeto.


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Figura 49: Implantação/Planta de cobertura (Fonte: acervo da autora)

O telhado verde é uma alternativa bastante interessante tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista de conforto ambiental, mas pode ser também uma composição com função de sustentabilidade, quando combinado a um mecanismo de captação de água de chuva que contribui para reduzir a sobrecarga do sistema de drenagem pluvial urbana, além de possibilitar o armazenamento de água passível de aproveitamento para usos diversos. O sistema escolhido foi o EPAMS® Drenagem Pluvial por sistema antivórtice.

Estrutura A estrutura para este projeto é composta por pilares em perfil metálico I de 30cm, vigas metálicas também em perfil I e lajes alveolares. No Piso Auditório, os pilares foram revestidos de concreto e colocada uma laje nervurada (laje cubeta). A malha estrutural possui vãos de 10m, 8,30m e 8m.


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Figura 50: Corte 1 (Fonte: acervo da autora)

Figura 51: Cortes 2 e 3 (Fonte: acervo da autora)

A opção por utilizar estrutura metálica foi muito influenciada pelo fato do aço ter alta resistência e oferecer possibilidade de utilização de elementos mais esbeltos. São estruturas de fácil instalação e permitem uma melhor qualidade de construção e menor manutenção, oferecendo segurança e resistência.


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Figura 52: Corte 4 (Fonte: acervo da autora)

Além da estrutura metálica, utilizei fechamento em vidro nas fachadas e nos espaços. O vidro é considerado um elemento moderno e versátil por suas características de durabilidade e transparência que ajudam a integrar espaços, além de ser um elemento estético.

Figura 53: Fachada - rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)


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Figura 54: EdifĂ­cio em perspectiva (Fonte: acervo da autora)


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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Minha opção de desenvolver um trabalho teórico-prático, ao invés de apenas um trabalho teórico, deveu-se ao fato de acreditar que debater questões de Desenho Universal sem passar pela experiência de conceber um projeto arquitetônico embasado nos seus princípios, vivenciando todos os desafios de fazer a transposição da teoria para a prática, se constituiria num discurso superficial. Procurei, através deste trabalho, estudar a fundo todas as variáveis na tentativa de dar corpo a um objeto que pudesse ser uma referência, no intuito de colaborar através desta primeira tentativa com uma discussão que precisa ser levada a diante para que possa, a cada nova experiência, ser compartilhada, questionada, debatida e aprimorada. Tenho certeza de que muito maior do que o resultado do meu objeto final, foi a trajetória que consegui construir neste período de desenvolvimento deste trabalho. Vivenciei momentos de desespero e outros de extrema euforia. Sigo na esperança de que este tema apareça cada vez mais nas discussões das salas de aula e, principalmente, se transforme em um tema de real interesse para os arquitetos.

Figura 55: O Homem Diverso (Fonte: http://www.cvi-rio.org.br)


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